Em geral, o olhar que você tem para o mundo, para a vida, para tudo à sua volta, é algo orientado por escolhas, desejos e medos, algo que você constantemente está tentando manipular; essa é a base do condicionamento humano. Nós não ficamos com a realidade do momento presente e isso significa que não ficamos com a verdade do que é, daquilo que está aqui. Assim, a totalidade dos eventos, acontecimentos, está sempre sendo interpretada mentalmente, ou seja, estamos constantemente interpretando a vida, a realidade, através do pensamento, das ideias. Estamos sempre tentando acertar, ajustar a totalidade dos acontecimentos, dos eventos.
Não podemos nos aproximar da Verdade através do pensamento. Não há nenhuma realidade no pensamento, pois ele é apenas um fenômeno acontecendo, como qualquer outro, e não pode dar significado a nada. O pensamento não pode interpretar o que acontece, nem pode interpretar a vida, essa coisa tão vasta e misteriosa, e, no entanto, é isto que você tem procurado fazer através dele.
Todo o conhecimento e todas as informações sempre envolvem a noção de tempo, espaço e de um percebedor das coisas. Então, perceber as coisas está sempre nessa noção de tempo, espaço e um percebedor, com o pensamento e suas ideias sobre o que acontece. O que estou dizendo é que toda noção que você tem, por exemplo, sobre o relacionamento em família é algo que você, como um percebedor do que está acontecendo ou parece estar acontecendo, está sempre avaliando no tempo e espaço. Você está sempre criando uma história particular, pessoal, sobre tudo isso e, é claro, está muito envolvido com essa história.
A sua identidade pessoal está dentro dessa história. Você é o percebedor, no tempo e espaço, e isso falsifica completamente a realidade do fenômeno, desse simples acontecimento. Você está sempre julgando, comparando, aceitando ou rejeitando, e isso está produzindo sofrimento para este falso “eu” presente, porque é ele esse percebedor do tempo e espaço, dentro dos eventos e acontecimentos. Isso é completamente falso, pois não é possível você conhecer a totalidade dos acontecimentos, eventos, sendo um percebedor, identificado com a ilusão dessa falsa identidade.
Todas essas informações envolvendo tempo e espaço são somente uma criação do próprio pensamento e, consequentemente, essa representação mental que você faz termina sendo, necessariamente, dualista. Em outras palavras, ela está julgando o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado, e está dentro dessa coisa de gostar ou não gostar. Veja como isso é interessante: essa é a dualidade e é exatamente isso que sustenta a ilusão de um sofredor; e o sofrimento somente é possível quando existe um “sofredor”. Esse é o mundo que você conhece quando está perdido na mente, identificado com essa crença.
A mente cria um tempo e um espaço psicológicos – tenta evoluir dentro desse espaço e, para evoluir, ela precisa de tempo. Ela nunca está satisfeita com o que está surgindo neste instante. Ela está imersa em todo tipo de conhecimento, experiências, e tentando transformar “o que é” numa outra coisa. Então, ela cria todo tipo de ilusão, sendo a maior de todas elas a busca da felicidade; projeta uma “felicidade” que ela idealiza e vai em busca disso, através de uma realização pessoal, profissional, amorosa… Esse é o modelo supostamente lógico, verdadeiro, da realidade, no qual você foi educado para viver, mas, na verdade, é somente uma representação psicológica da vida, uma interpretação mental de uma realidade puramente subjetiva, imaginária. Agora, fica claro para você porque chamam isso de “estado de sono”, no qual o “sonho” da separação, de uma entidade separada de Deus, está acontecendo; como se houvesse você e Deus, você e a Verdade… Esse é o “sonho” acontecendo nesse “sono” da ignorância sobre quem você é verdadeiramente.
Há uma beleza nesse momento chamado Satsang, onde podemos discorrer sobre isso, não com palavras, mas através da investigação. Há algo que pode romper com tudo isso: uma vida de entrega e dedicação à investigação da Verdade. Você nasceu somente para isso. Nasceu para descobrir que não nasceu, que não há nenhuma entidade separada aí presente, nessa única realidade que é Deus.
Então, essa representação intelectual, verbal, mental, imaginária que temos do mundo, que se sustenta nessa crença de tempo, espaço e percebedor, é algo completamente falso. Isso termina induzindo ao surgimento desse estado de inconsciência, conhecido como “sono”. A base que sustenta tudo isso é a identificação com o pensamento.
Como é que você consegue acompanhar isso? Afinal, ouvir isso significa o que para você? Como isso o toca? Como é que lhe soa saber que você não é essa pessoal consciência, que não é quem acredita ser, que não existe um indivíduo presente nesse momento?
O pensamento sempre é a base do tempo e do espaço; a base para essa falsa identidade “se movimentar”.
Ok, pessoal. Vamos ficar por aqui e até o nosso próximo encontro. Namastê.