Você não precisa aprender o que já sabe, precisa apenas se lembrar, mas você anda tão ocupado que não tem espaço para isso. O espaço está sendo tomado por atividades da mente e seus desejos, suas vaidades, seus caprichos, suas buscas… A mente está tomando todo o espaço que você tem para Ser. Então, você casa, tem filhos – ou ainda quer fazer isso – o que implica trabalho, necessidade de trabalhar, necessidade de construir uma vida para atender a todos os seus desejos. O desejo tem muitas consequências. Algumas podem parecer boas e outras não, mas essas consequências estão sendo boas ou ruins para este que está se ocupando e, quando você se ocupa, seu espaço e tempo são tomados. Assim, não há tempo e espaço para Ser, para a Felicidade, para a Realização, para a Completude, que é esse Amor, que é essa Liberdade.
Quando você vem a Satsang, você se dispõe a se desocupar e a encontrar um tempo para Ser, para investigar a Natureza do Ser, a Natureza da Realidade. Porém, não se pode investigar a Natureza do Ser, a Natureza da Realidade, e se deparar com essa Totalidade, com essa Completude, com essa Liberdade, com esse Amor, com essa Felicidade, enquanto você estiver se ocupando com a “pessoa” e seus desejos – o desejo de ser pai, de ser mãe, de ser chefe de família, de realizar alguma coisa… A “pessoa” nunca terá tempo e espaço para outra coisa, a não ser para ela mesma, mas quando ela está, não há Verdade e, se não há Verdade, a ilusão opera, e ilusão é sofrimento.
A ignorância não é real; a Verdade apenas não foi lembrada. A Verdade não é lembrada enquanto a ilusão da ignorância se mantém. A ilusão da ignorância é esse afastamento para outras coisas, as quais ocupam o lugar da Verdade, do Divino, de Deus, da Consciência, da Sabedoria, da constatação de sua Natureza Divina, de sua Natureza Real. Por isso, os sábios falam da importância de ir além do mundo, de renunciar o mundo. Agora, você compreende a implicação disso! Renunciar o mundo é viver sem conflitos que o desejo produz. Renunciar o mundo significa estar “morto”!
Por isso que Satsang é assustador! Por isso que alguns vêm e depois desistem! Satsang é para todos, mas, na verdade, é só para alguns, porque, no fundo, ninguém quer morrer. Todos querem a Felicidade, a Paz, a Liberdade, a Verdade, o Amor, mas querem da forma que a mente deseja. Em suma, você quer ter tudo que adquiriu e tudo com o que se identifica, mas quer permanecer sem conflito. Então, a Felicidade é uma coisa impossível!
Ser “alguém” significa ter coisas, o que faz com que você se sinta “vivo”, e “alguém vivo” não está em paz, porque lidar com o que se tem dá muito trabalho, muita preocupação, toma muito espaço e tempo. Entenderam a questão toda? Por isso se fala da renúncia… É de fato uma morte! Não é, basicamente, abandonar tudo do lado de fora, porque isso é relativamente fácil. Se você tiver coragem de dizer não a tudo e a todos, você pode conseguir isso. Alguns já fizeram! Mas a “morte” não está nisso! É algo muito mais radical! É uma coisa interna!
Esse espaço e esse tempo que se fazem necessários para esse Despertar começam e terminam aqui e agora. Começam com a lembrança de que você não é corpo e que esse corpo não é seu, nem aquilo com que ele entra em contato – pessoas, objetos e lugares. Então, o cerne da questão é: “Quem sou eu?”.
Percebam a beleza do Despertar, a beleza desse Florescer, a beleza dessa Realização… Não se trata do que está fora do corpo, nem do que está dentro da cabeça, mas dessa constatação de sua Real Natureza, dessa “Coisa” inata. O reconhecimento Disso, a lembrança Disso, é a morte da ilusão da ignorância, é a morte da “pessoa”, é a morte dos desejos e, quando os desejos terminam, o medo também termina. Eu não estou falando de uma morte real, mas de uma morte ilusória, porque só pode morrer aquilo que é uma ilusão. O que é real não morre! Só pode desaparecer aquilo que apareceu, e aquilo que apareceu vai desaparecer, isso é uma questão de tempo. Então, não importa o que você ama; não é seu!
Reparem como é lindo isso! Não há nada que seja permanente, que permaneça imutável, intocável pelo desaparecimento. A impermanência é a natureza das aparições, porém há algo aí que não pode desaparecer, porque nunca apareceu! Você sabe que está aí, mas você nunca viu! Há algo que está presente, não pode ser negado, mas nunca vai ser encontrado, porque nunca vai ser visto! Isso é como os olhos: você sabe que estão aí, mas você nunca os viu. Para vê-los, você tem que olhar para o espelho. Mas, ao olhar para o espelho, você vê os seus olhos ou o espelho? Percebe? Você nunca vai ver os seus olhos! No máximo, você vai ver algo que reflete alguma coisa. Da mesma forma, o seu Ser não pode ser visto, a sua Natureza Verdadeira não pode ser vista, não pode ser capturada, apanhada, mas Ela está aí. Você se esqueceu de Ser, você se esqueceu do que você é, e agora está com objetos, está com espelhos. Você nunca vai saber quem você é! Lembrar é possível, saber não!
A única coisa que você tem feito de forma equivocada, de forma errônea – e por isso está todo enrolado, sofrendo, confuso, desorientado, assustado, cheio de problemas – é se confundir com o que você não é, esquecendo quem, de fato, você é. Você está fazendo isso olhando para espelhos, encontrando coisas que você não pode segurar. Você não pode segurar suas riquezas materiais, suas riquezas emocionais, suas posses… Pessoas são posses psicológicas, imagens psicológicas e coisas são posses físicas, mas você não pode segurar isso. Não pode segurar o corpo, porque também é uma riqueza que não lhe pertence. Quando você adoece ou o corpo começa falhar, você fica muito desesperado, você fica muito assustado, mas o corpo vai desaparecer. Você tem que usar esse tempo e esse espaço para se lembrar de que você não é o corpo e que o melhor lugar para se estar é em Satsang, sobretudo quando o corpo está falhando, pois é onde você descobre que não é o corpo.
Na Índia, é muito apreciada a oportunidade de estar diante de um Jnani, de um Sábio, de um Mestre, que é aquele que vive em totalidade, desidentificado do corpo e, consequentemente, do mundo e das aparições. Então, confia-se na Graça, na Presença, na Sanidade, na Santidade de um Mestre vivo, porque, talvez, um olhar seja suficiente para que se deixe a forma de modo sereno, sem gritos de desespero. Se você entrega a vida a Deus, então entregue também a sua morte a Ele! Você não controla a sua vida, portanto você não pode controlar a sua morte. Mas, se você entrega a sua vida, Deus cuida da sua morte. Por isso, o ponto aqui sempre será esse: Quem é você?
Se você perguntar a um Sábio: “Você sabe quem você é?”, ele lhe responderá: “Não! Eu não sei quem sou… Eu Sou!”. Com essa Realização, quem fica para saber? Não fica nada! Podem perguntar: “Você é um Iluminado, um Realizado?”. Não sei! Eu só sei o que não sou: não sou o corpo, não sou a mente, não sou o mundo, não sou as experiências, não sou pai, não sou mãe, não sou avô, não sou nenhuma história atrelada a esse corpo. Então, se você disser que eu sou bonito, isso será uma questão sua e não minha; se você achar que sou feio, isso será uma questão para você e não para mim; se você me chamar de Guru, isso será uma questão sua; se você me chamar de fraude, também será uma questão sua e não minha.
Simples, não é? Eu sou qualquer coisa que você quiser que eu seja neste momento, porque no momento seguinte você vai querer outra coisa e terá também essa liberdade de me ver da forma que você quiser. Eu não me importarei também, porque eu sei o que não sou; porque eu só sou o que Sou.