É bom estarmos juntos em mais um momento como este. Foi importante você ter descoberto o valor dessa aproximação, que temos aqui nesse encontro, porque estou lhe comunicando algo que você já carrega dentro de si mesmo. Eu não preciso lhe dar informações sobre isso, até porque não é possível dá-las.
Se um dia você encontrar alguém declarando, afirmando, que pode lhe dizer a verdade, afaste-se dele, ou dela, porque isso não é possível. Não é possível “alguém” lhe comunicar a verdade. Não é possível, nem é necessário, e, no entanto, estamos aqui diante de algo bastante paradoxal. É preciso ser informado sobre Isso, mas ninguém pode nos dar informações sobre Isso. A beleza desse encontro, a importância dele, é que eu posso lhe informar sobre Isso, mas é impossível para mim, ou para qualquer um que esteja em seu Estado Natural, dar “informações” sobre o significado da Verdade.
Então, é algo realmente importante estarmos dentro desse espaço. A Verdade não é comunicada, não através de informações, ela não pode ser comunicada. A real comunicação da Verdade é pelo despertar de sua Presença, dentro de você. Assim, quando você tem um encontro como esse, que estamos tendo aqui hoje, está em um momento muito importante. Esse é um momento para o despertar da Verdade e não para o conhecimento da Verdade.
Quando você está diante de algo, como uma escultura, uma pintura ou uma bela paisagem, não é a forma que está lhe comunicando algo, mas aquilo que está oculto por trás dessa forma, dessa escultura, pintura ou paisagem; é aquilo que está por trás disso que lhe comunica este estado interno, que você experimenta como o silêncio, a beleza, a paz, isto termina sendo comunicado e a representação física da pintura, da escultura, da paisagem, é apenas um formato externo, aparente, sensorial dessa coisa. Quando você se depara com um mestre vivo, não é a forma, mas é o que está por detrás da forma, que comunica algo… Assim, não é a fala, mas o silêncio por trás da fala.
Na Índia, eles têm uma expressão muito bela – Darshan –, que significa “o encontro com a forma de Deus”. Quando você se depara com uma foto de um mestre vivo, ou de um mestre que já não está mais em seu corpo físico, ou depara-se com uma escultura dele, uma imagem esculpida em pedra, ou você se depara diretamente com a forma física de um mestre – a presença de Deus naquela forma humana –, olhar para aquela forma, seja uma fotografia ou uma escultura, uma imagem ou ele em sua forma física, esse é o contato com a visão de Deus na forma. Darshan é “ter a visão de Deus”.
Assim como um quadro, uma escultura ou uma paisagem lhe trazem ou despertam algo dentro de você, que é comunicado aí dentro… Não é o quadro, a paisagem ou a escultura em si, mas aquilo que essa “coisa” comunica internamente; isso que desperta algo em você… Desperta essa beleza, essa paz, esse silêncio.
Darshan é algo que podemos comparar a isso… Essa Presença divina é comunicada diante desse olhar, desse contato – isso é o Darshan… É uma fala de comunicação interna. No instante do Darshan, o que comunica não é a fala, é o que há por trás dessa fala; não é o olhar, é o que está por trás desse olhar; não é essa presença física, mas o que está por trás dela. Assim, acontece uma comunicação não verbal, não intelectual, algo não teórico.
Isso é algo como se todos vocês estivessem, agora, com um piano aí e eu com outro aqui. Então, eu toco uma nota nesse instrumento musical e, como estamos dentro da mesma sala, quando toco essa nota, todos os pianos presentes, por uma questão de ressonância, essa mesma nota irá receber a mesma vibração. Assim, se eu toco a nota “lá”, por uma questão de ressonância, em todos os pianos essa mesma nota irá ressoar. Isso é chamado de ressonância. Observem que o piano de vocês não fez exatamente nada, ele apenas respondeu a essa ressonância. O contato com a Realidade, com a Verdade, é algo assim. É num contato desse nível onde a Verdade se revela, pois Ela já está presente. Essa é a forma de comunhão, ou comunicação, ou despertar.
Então, esse Silêncio, Amor, essa Consciência, Presença, Verdade, desperta em você dessa forma: por pura ressonância. Esse é um momento importante por isso. Satsang é um momento do despertar dessa ressonância, desse Amor, desse Silêncio, dessa compreensão, dessa Verdade, dessa Consciência. Isso é transmitido por uma espécie de ressonância.
Satsang é isso, não um ensinamento. Você não precisa ser ensinado. Você está aqui apenas para ser despertado; para descobrir que há uma nota, a “nota lá”, nesse “instrumento musical” que você trouxe para essa sala. Na verdade, é assim que o ensino é comunicado; esse é o ensino real. Então, a forma do guru, ou do discípulo, é somente a embalagem, pois o conteúdo é único. A embalagem pode parecer diferente, mas é o mesmo conteúdo; esse conteúdo é o Silêncio, a Verdade, a Felicidade.
Está claro isso? O conteúdo é apenas um, mas as embalagens são muitas. Então, há muitas formas de gurus e de discípulos, mas a diferença está somente nas embalagens, pois o conteúdo sempre é o mesmo. Há somente uma única Verdade, uma única Realidade, um único Deus, uma única Consciência, Presença, Felicidade, Liberdade.
Você pode acompanhar isso?
Agora, se você não traz o seu “piano”, não toma ciência de que essa nota “lá” está presente nele. Acontece que você quer a realização da Verdade, quer a Felicidade, o Amor, a Sabedoria, mas não traz o “piano” para dentro da sala. Se você está querendo realizar a Verdade, tem que estar disposto a realiza-la, e tem que trazer o seu “piano”. Compreendem o que eu quero dizer, com “trazer o piano”?
Como você vai realizar Aquilo que você é, afastando-se disso o tempo todo? Se está ocupado apenas com as coisas do corpo, da mente e do mundo, como você irá além disso? Se a sua vida é criar filhos, cuidar de marido, mulher, família, é alcançar algo para essa “pessoa”, que você acredita ser, como você pode saber quem de fato você é? Como você pode ir além dessa historinha criada pelo desejo?
Realizar Deus é ser Deus. Portanto, é necessário ser O que você nasceu para ser. Essa é a sua única e real necessidade. Quando Isso é realizado, tudo o mais à sua volta assume o lugar que tem que assumir; e você não se preocupa com mais nada. O que estou lhe dizendo aqui não é uma teoria, é a verdade para esse mecanismo chamado Marcos Gualberto.
Você é Deus! Como Deus se preocupa com alguma coisa? Como Deus pode se afligir com problemas familiares? Ou se preocupar com problemas de saúde, de dinheiro ou com qualquer outra necessidade? Então, a única coisa que importa é realizar o que você nasceu para realizar. Assim, literalmente, Deus vai suprir todas as necessidades desse mecanismo, desse organismo, desse corpo. Tudo o que Deus precisa, Deus tem, porque Deus é tudo. Portanto, a única coisa que você precisa é desaparecer e deixar Deus fazer muito bem o trabalho que Ele pode fazer, sabe fazer e tem o poder de fazer.
Tudo isso acontece nesse Darshan. Deus é ser Deus… Esse é o fim do sentido de um “eu” presente se sentindo separado, distante, e precisando de alguma coisa.
Vamos ficar por aqui. Até o próximo encontro. Namastê!