Esses encontros tratam de algo essencial, fundamental. Estamos falando do reconhecimento do nosso próprio Ser. Tratamos do reconhecimento desse Ser impessoal, que é Consciência, dessa Verdade ilimitada que somos, Daquilo que está sempre presente. Alguns chamam esse reconhecimento de Despertar ou Iluminação, o que, na verdade, é o fato mais simples, claro e óbvio da vida. No entanto, o lado paradoxal é que isso tem sido negligenciado, porque toda educação que você recebe, desde a infância, é para negligenciar Aquilo que você é. Você está tão ocupado com uma história, que está esquecendo, negligenciando, onde ela está, de fato, se desenrolando, surgindo, aparecendo, acontecendo, pois todo condicionamento que recebemos é para nos ocuparmos com a “história”.
Portanto, nosso interesse em Satsang está nesse reconhecimento do nosso próprio Ser, dessa Realidade impessoal, ilimitada e sempre presente, chamada de Despertar ou Iluminação, fato simples e óbvio, Algo realmente íntimo de cada um de nós. No entanto, presos à imaginação, à “história”, negligenciamos ISSO, que está presente como uma Realidade não imaginada, onde essa “história” se desenrola, aparece; onde o pensamento, a imaginação e a história aparecem.
Você pode passar a vida toda estudando esse assunto teoricamente, verbalmente, ouvindo falas como essa que nós temos feito em Satsang, ou lendo livros que tratam desse mesmo assunto. No entanto, isso ainda ainda fará parte da história imaginária de um “eu” presente, de uma “entidade” presente, enquanto, de fato, isso é pura imaginação, pois não existe entidade nenhuma, nenhum “eu” presente. Você precisa ir mais longe, além disso, o que significa parar com essa imaginação. Em outras palavras, precisa explorar essa Presença, essa Consciência, esse Espaço onde se desenrola tudo isso, onde tudo isso acontece, Aquilo que, na verdade, intimamente, é você mesmo. Você agora está consciente… Então, essa Consciência não é estranha a você. Você sabe dessa Consciência, sabe que você é Ela.
Assim, se você explorar essa Consciência, a qual, de fato, já é conhecida intimamente, descobrirá que não há nenhuma limitação Nela, pois Ela não é localizada, pessoal e não está no tempo. O pensamento e o corpo, com suas sensações, imaginações, sentimentos, emoções, os quais podem ser recordados, explicados traduzidos em palavras, fazem parte do tempo, mas Aquilo que presencia tudo isso acontecendo não está limitado, não é pessoal e não é parte do tempo, da imaginação, do pensamento.
A natureza da Realidade é a natureza dessa Consciência, que é Liberdade, Verdade, algo fora, além da limitação — este é o assunto em Satsang. Somente Aquilo que está ciente e presente, agora, como Consciência, não pode estar limitado, localizado. Somente essa Consciência pode saber Dela própria e, portanto, somente Ela se conhece ilimitada, sem localização, independente, presente e ciente. O pensamento, a sensação, a emoção e a imaginação não podem fazer isso, mas somente podem aparecer em razão dessa Consciência. Foi por isso que eu disse que é algo simples e óbvio, e uma experiência íntima de cada um.
Dessa forma, a relação entre a Consciência e essas aparições é que todas elas aparecem Nela. Você, como Consciência, está presente e ciente dessas aparições. Não são essas aparições que estão cientes, presentes e conscientes de você. Você está consciente do corpo, da mente, das emoções, dos objetos e das sensações, como o tato, o olfato, o paladar e assim por diante. Não é isso que está consciente de você, é você que está consciente disso. Percebem?
Portanto, o Despertar, ou a Iluminação, ou a Realização de Deus, é o reconhecimento dessa Consciência não espacial, não temporal, não limitada, além do corpo, da mente e do mundo. Essa ciência, essa Presença reconhecida, é Meditação. Não é a prática da meditação. Eu estou falando da Real Meditação, na qual não há “alguém” em uma determinada prática (isso ainda é o movimento do pensamento, nessa ilusão de “alguém” presente na experiência da meditação). A Meditação Real, que é o reconhecimento dessa Presença ciente, não limitada, não espacial, não temporal, é a Natureza do Ser, da Liberdade, da Iluminação.
Para você, é muito estranho ouvir isso?
Participante: Mestre, mesmo a ideia de mundo deve desaparecer nessa experiência?
Mestre Gualberto: A natureza dessa experiência mente-corpo-mundo é Consciência. Então, mente-corpo-mundo é o modo de apresentação dessa Consciência e não está separado Dela; é uma aparição Nela. Essa separação entre Consciência, mente, corpo e mundo é só o que o pensamento produz, é uma imaginação, pois não existe nenhuma separação. Essas aparições aparecem e desaparecem nessa Consciência, que é a sua Natureza Verdadeira, Real. Estar desidentificado da ilusão da experiência do corpo, da mente e do mundo, dessas aparições, como um experimentador nelas, é o sentido real dessa Liberação. Não há “alguém” nessa experiência, só há a Consciência, como corpo, mente e mundo. O que desaparece é a ilusão dessa identidade, desse experimentador, de “alguém” presente nisso, e, se isso desaparece, desaparecem o sofrimento, o conflito e o medo. Toda sua experiência de sofrimento está nessa ilusão de ser “alguém” dentro da experiência, tentando agir de forma acertada ou tentando mudar, alterar ou transformar o que se apresenta em outra coisa. Ou seja, encontra-se presente aí a ilusão de que existe “alguém” que pode fazer isso. Aqui, trata-se de reconhecer que não há “alguém” presente, o que eu chamei agora há pouco de reconhecer essa Presença, ter ciência dessa Consciência, que é não espacial, não limitada, não temporal.
Participante: Então, todos os objetos perceptíveis são criações dessa Consciência?
Mestre Gualberto: Não. Todos os objetos são essa Consciência. A Consciência não cria nada. Ela manifesta a Si mesma, como aparições que, neste momento, estão aqui, e, no momento seguinte, desaparecem. Tudo é Ela, Nela mesma. Não há nenhuma separação nessa Consciência. Portanto, não tem um ponto, uma linha, uma demarcação, uma fronteira, onde termina a Consciência e os objetos começam. Tudo é essa Consciência, sem separação, sem divisão; tudo aparece e desaparece Nela. Ela é essa Natureza Real do seu Ser. Você é Consciência. Você não é uma “pessoa” com decisões, opções de escolha, desejos e medos. Você não é uma “pessoa” na procura da paz, da liberdade, da felicidade e na procura de Deus. Essa “pessoa” é a ilusão de um experimentador na vida, que compreende corpo, mente, mundo, pensamentos, sensações, emoções, sentimentos e assim por diante…
Isso, basicamente, é o fim do sentido de separação, de dualidade; o fim do conflito e do medo. Se olharmos, de forma simples e direta, toda e qualquer experiência acontecendo neste momento, nós vamos perceber que não há nenhuma distância entre essa percepção e essa experiência. A distância é criada somente por uma crença, uma ideia, um conceito, de um “eu” separado do “não eu”, que é a experiência; o “eu” experimentando a experiência, que é o “não eu”. Mas essa separação, divisão, é criada apenas pela imaginação, pelo hábito de pensar dessa forma. Esse hábito de pensar dessa forma produz o “sentir” dessa forma, o que é uma ilusão, porque não existe fronteira, não existe divisão entre “eu” e a experiência. É como a ilusão “eu dentro do corpo”, “eu e o corpo” (o corpo como a experiência e “eu” nesse sentir, experimentar, o corpo). Isso é somente uma crença, pois só tem o corpo, não tem o “eu”; não existe nenhum “eu” dentro do corpo. Assim, esse “eu” que tem um nome é uma ilusão… Esse nome é só memória, é só pensamento, o qual não tem um dono; é só um acontecimento na máquina, no mecanismo. Esse movimento da memória, na ilusão da imaginação, é um “eu” pensando, enquanto, na verdade, só tem o próprio movimento, o próprio pensamento, e não o pensador com o seu pensamento ou o “eu” com o seu corpo.
Se você está disposto a ver isso de uma forma direta e real, como uma Realização, não como uma teoria, uma crença, um conceito, venha ao Satsang presencial.