Estes são encontros de descobertas, de diretas constatações. Satsang significa, verdadeiramente, o encontro com a Realidade, o encontro com a Verdade. Diferente de um encontro com um professor, aqui você não precisa ter um preparo. Não é uma matéria que você, por exemplo, por estar aqui pela primeira ou segunda vez, está um pouco mais atrasado que os demais. Essa é uma fala de investigação de uma realidade presente que é possível que você tenha esquecido, mas não é um assunto que você internamente desconhece; Isto já está presente aí. Mas é preciso tomar cuidado com isso. É importante que você acompanhe isso pacientemente, cuidadosamente, com o coração voltado para isso, para essa constatação, para aquilo que estaremos propondo para você.
Você pretende realizar a Felicidade… A Felicidade é o fim do sofrimento. No entanto, já começamos a nos deparar com um aspecto bastante paradoxal nestes encontros chamados Satsang. Felicidade é o fim do sofrimento, mas, na verdade, a busca da felicidade e sofrimento são sinônimos. A própria busca da felicidade alimenta e sustenta o sofrimento, porque um outro nome para a busca é “alguém” na procura. “Alguém” na procura é a pessoa, que é a entidade que sofre. A entidade que sofre, que é a pessoa na busca, significa sofrimento.
Então, o sofrimento busca se livrar do sofrimento; isso é o que a pessoa faz. Isso não é a busca da Verdade, é a busca da felicidade. Ou seja, a busca da felicidade é, na verdade, a busca do sofrimento. Tudo o que se faz na busca da felicidade é alimentar a “pessoa”, a “entidade” na procura dessa coisa. Assim, ficamos num círculo, num circuito fechado. A primeira coisa estranha de ouvir em Satsang é que “pessoa” é sinônimo de sofrimento, e sofrimento significa a busca da felicidade; na própria busca está a “pessoa”, o sofrimento e a infelicidade. Então, a felicidade que se procura é a infelicidade.
Tudo o que você tem feito na sua vida, na procura da felicidade, está sustentando a infelicidade, porque tudo o que você tem feito na sua vida é buscar sofrimento na procura da felicidade. Esse é um assunto bastante singular, bastante ímpar, fundamental. Tudo o que você faz é para ser feliz, mas na verdade é para ser infeliz, pois quando você entra em ação nesta busca, nesta procura, está a “pessoa”, que está muito atrapalhada e não sabe nada de felicidade, porque a natureza da “pessoa” é ser infeliz. Não existe uma só “pessoa” feliz neste planeta. Momentos de alegria e prazer não é ser feliz, momentos de preenchimento pessoal e satisfação não é ser feliz.
Ser feliz é Ser, e ser só é possível quando não há pessoa. Quando não há “pessoa” não há busca! Quando não há “pessoa” não há nenhuma busca de felicidade, nem da libertação da infelicidade. Quando não há “pessoa” não há busca, quando não há busca a felicidade está presente. A felicidade está presente quando não há “pessoa”, quando não há busca. A felicidade está presente quando “você” não está. Quando “você” aparece você transforma qualquer prazer em uma aquisição pessoal, e quer que isso se repita vez após vez, após vez; isso é a própria busca, a busca da felicidade, que produz a infelicidade, que é a busca do sofrimento.
Outra coisa sobre isso é: não se iluda. É algo bastante ingênuo, desproposital e por demais estúpido, essa “pessoa” falar de uma não pessoa, dizendo, por exemplo: “não tenho nada para fazer, nada para realizar, nada para alcançar e nada para buscar”. Então, essa aparente e ilusória entidade separada fala de si mesma como se não existisse, só porque ouviu a frase “aparente entidade separada”, “ilusória entidade separada”. Percebam o velho truque da mente: uma hora a mente acredita na “pessoa”, outra hora ela não acredita na “pessoa”, mas é a mesma velha mente; uma hora a mente acredita que não é iluminada, outra hora acredita que já está iluminada.
É necessário compreendermos isso, com todo o nosso coração, senão vocês vão cair na velha armadilha da “ambição do iluminado”, do desejo de iluminar. Se seu desejo de iluminar for muito forte de uma forma equivocada, essa Presença não assenta aí de uma forma definitiva, mas o pensamento cria uma iluminação. Então, se a pessoa diz que não há nada para fazer, para encontrar, para buscar; se a “pessoa” diz que “não há pessoa falando de si mesma”, ela está deitada numa rede, essa rede se chama Advaita Vedanta. Quando essa rede balança para um lado ela fala de “não dualidade”, quando ela balança para o outro ela fala de Sat-Chit-Ananda (Felicidade-Consciência-Ser). Esta é uma extraordinária e confortável crença, algo como tomar um milkshake, uma coisa muito confortável; algo delicioso antes da crise, mas é só uma crença-sentimento presente enquanto dura toda essa verbosidade, essa fala, esse blá-blá-blá. Mas, cedo ou tarde, na privacidade do coração, algo vai se mostrar insuficiente. Cedo ou tarde o movimento extraordinário, desconhecido e estupendo que é a vida vai declarar que essa crença-sentimento não é suficiente.
O sofrimento vai ressurgir de novo mais uma vez, e mais uma vez, e mais algumas vezes. E esse sofrimento vai impelir essa, assim chamada, “não pessoa”, que ainda é bem pessoal, a procurar felicidade, e essa procura da felicidade vai produzir ainda mais infelicidade. Pior do que não ter qualquer ensinamento sobre isso, é conhecer profundamente isso. Se a pessoa diz que não há nada para fazer, ela está numa situação bem pior do que qualquer pessoa que não sabe nada sobre isso. Se a pessoa sente que não existe nada de fato para fazer, para encontrar, para buscar, para realizar, ela está numa situação pior do que aquela pessoa que nunca ouviu nada sobre Realização. Isto porque Realização não é uma questão de entendimento intelectual, é uma questão de Presença, de Consciência, de percepção direta. Se a pessoa acredita não precisar, ainda carregando a ilusão de ser uma pessoa, está precisando muito. Se ela acredita não precisar, sua condição é muito pior do que aquela que se dispõe a investigar isso, isso porque ela nega a si mesma a possibilidade de ir além dessa ilusão, que é a ilusão de acreditar que não precisa, precisando.
É fundamental que você perceba de um modo direto aquilo que está sendo proposto para você em Satsang. Estamos propondo para você o fim da busca, mas não a ilusão de se falar no fim da busca. O fim da busca é quando a busca termina e não é quando se verbaliza “não há mais busca”. Verbalizar “não há mais busca”, enquanto a busca não termina, é muito cômico, é muito hilário, é bastante engraçado. Então, o que precisa ser feito, até não precisar ser feito, de fato precisa ser feito. Enquanto houver a ilusão de uma entidade presente nessa experiência, que é a experiência da “pessoa” de “ser alguém”, é uma grande ilusão se falar de um “não alguém”, ainda, sendo “alguém”; de um não trabalho, de um não fazer, de uma não rendição, de uma não entrega, ainda, se sentindo “alguém”, ainda se sentindo uma “pessoa”. Porque essas assim chamadas falas Advaitas não falam sobre isso?
Enquanto só se conhece a sombra, falar de luz é imaginação; na Índia, chamam isso de “ilusão da ignorância”. Não há de fato qualquer ignorância, mas existe a ilusão da ignorância. Essa ilusão da ignorância pode se passar por clareza, também; clareza de não ignorância, clareza de não ilusão, e ainda é ilusão da ignorância. “Não há nada para se fazer, não há ninguém para fazer qualquer coisa” – isso é a verdade, mas é a verdade para Buda, para Ramana Maharshi, para Jesus, para Krishna, para Marcos Gualberto. Quando as pessoas vem a mim e repetem essas falas, digo “ok, é maravilhoso, é exatamente assim”, e pergunto para elas: “mas isso é a sua compreensão ou é a repetição da minha fala ou da fala de outros?”
É tão confortável repetir aquilo que outros dizem… Mas seja honesto, cheque. Quando você vai sair do hotel você tem que fazer o check out; então, eu diria para você “faça o check in e depois o check out. Seja honesto e cheque sua verdadeira vida”. Olhe para si mesmo, momento a momento, não só quando estiver entusiasmado diante de uma fala como essa, ouvindo e repetindo, ou escrevendo e recitando poesias. Olhe para isso de uma forma direta, em primeira mão, faça o check out… Veja se você já pode ir embora, se já “fechou sua conta”. Cheque se isso é a verdade de sua própria experiência, ou se é uma crença, que é mais um pensamento e uma ideia, mais uma crença, sobre isso.
A vivência direta é a prova! Não uma prova para outros, mas para si mesmo. Onde quer que você esteja lá estará esta Presença, que é esta Consciência, que é esta Graça, que é esta Verdade. Então, faça o check out. Vocês querem a Verdade mesmo ou vocês querem a teoria sobre isso? Teorias vocês adquirem em livros e ouvindo falas como esta aqui no Paltalk, ou assistindo a vídeos de Marcos Gualberto, Eckart Tolle, Mooji. A prova existencial dessa Realização não é a fala, não é a expressão.
Você sabe quanto tempo uma semente passa no interior da terra até que possa germinar? Eu vou lhe dizer: é o tempo que se faz necessário para cada semente. Cada semente está no interior da terra, na escuridão da terra, oculta dos olhos de todos e da luz solar, até que no momento certo ela germina, ela brota. O tempo para cada semente é o tempo que ela precisa, mas, durante este tempo, ela permanece quieta, não aparece, se mantém oculta em silêncio, em profundo silêncio, até que, no momento certo, a vida, a existência lhe impulsiona para a germinação. A semente explode e deixa de ser semente quando ela germina. Não adianta tentar forçar isso.
Quando é que você estará maduro? Quando estiver maduro. Antes disso é uma fraude, é só mais uma ilusão, é só mais um forçar de barra. Então, crianças, fiquem quietas, mergulhem em si mesmas, fechem a boca… Deixem essa semente aí, deixem o silêncio tomar conta dela. Aqui o tempo é a coisa que menos importa. Aqui o que importa é a fecundidade, é o poder intrínseco, é o potencial interno, é a verdade presente nessa semente, o poder que ela tem, o poder que ela traz, o potencial dela para trazer Isso à tona, para realizar Isso, para manifestar Isso.
OK? Namastê!