O que estamos fazendo nesses encontros? O que é estar aqui em Satsang?
Primeiro, você precisa perguntar se existe alguma distância real entre você e a Verdade. Todas as vezes, eu me deparo exatamente com essa dificuldade em Satsang: tentar, através das palavras, mostrar que não há nenhuma distância entre você e a Verdade!
Afinal, qual é a distância entre essa Consciência e os objetos dos quais Ela está consciente (corpo, mente, e mundo)? Existe alguma distância? Que distância é essa? Onde se cria, se produz, essa distância?
Se você investigar isso, de forma simples e direta, verá que não há distância; que essa separação não é real; que essa Consciência está presente sempre, e a mente, o corpo e o mundo estão aparecendo Nela — não são coisas separadas.
Em outras palavras, você apenas olha através de uma crença, de uma ideia, do pensamento acerca dessa experiência acontecendo. Você nunca entra a fundo nessa experiência. No entanto, se o fizer, descobrirá que não existe alguém presente nela; há somente a experiência acontecendo na Consciência. Dessa forma, a mente, o mundo, o corpo, as sensações, as emoções, os sentimentos, e os pensamentos estão acontecendo sem a ilusão da separação, da dualidade.
Dualidade significa duas coisas acontecendo: a “consciência” testemunhando e a mente, o corpo e o mundo aparecendo de uma forma independente… mas isso não é real! A mente não é independente, o corpo não é independente, o mundo não é independente! Não existe separação, não existem duas coisas! O pensamento não é independente do pensador! Na verdade, o pensador é só uma crença, uma ideia, mais um pensamento também, que não funciona de uma forma independente dessa Testemunha, dessa Consciência.
Não há pensador, pensamento, corpo e mundo como algo separado, com uma vida independente. Tudo isso é real, mas apenas nessa Consciência. Você não precisa se livrar do pensamento, nem da mente ou do corpo. Quem estaria tentando fazer isso? Apenas a ilusão da separação, da dualidade; a ilusão de alguém que está presente como o pensador, separado do pensamento; o observador separado daquilo que ele observa; aquele que se sente separado daquilo que é sentido.
Todo o problema que você tem se encontra na ideia de que há uma vida sua, particular, acontecendo; a ideia de que essa vida é a vida de alguém — alguém e suas escolhas, desejos, determinações, intenções… Portanto, você está brigando com quem? Discutindo com quem? Reclamando com quem? Todo seu problema com o outro é um problema com quem? Todo seu problema com o mundo, todo seu problema com a própria mente, com o corpo, é um problema com quem? O seu conflito é com sua namorada, com sua esposa, marido, vizinhos?
Você gosta de alguns e não gosta de outros… Então, de quem é que você gosta? Quem é importante para você? Com quem você se dá muito bem? Reparem que é a mesma dualidade, é o mesmo sentido de alguém presente. “Alguém presente” sempre tem amigos e inimigos; é a mesma ilusão: se você tem amigos, tem inimigos também; se você gosta de alguém, tem alguém de quem você não gosta; se você está amando alguém, tem alguém que você não está amando. Você não pode ter uma coisa sem ter a outra. Essa é a dualidade, a ilusão da separação!
Então, quem é que o perturba ou o faz feliz? Ora você está feliz, ora você está triste, mas quem é que o deixa assim? Quem é esse que se sente feliz ou triste? Por que é que ele se sente assim? Por que tem algo do lado de fora tornando-o feliz ou triste? Para quem existe essa separação? Para quem existe essa dualidade?
Isso é muito claro, não?
Tudo isso está acontecendo nessa ilusão de estar se confundindo com a crença de ser alguém separado, no controle desse momento, dessa experiência, ou seja, do pensamento, da sensação, da emoção, do mundo, do corpo, do “outro”…
Reparem que estou sempre apontando para o Estado Natural, fora da dualidade, fora da ilusão, fora dessa separação entre sujeito e objeto, entre observador e objeto da observação. Reparem que nesse Silêncio, que é Consciência, que é Presença, não existe separação. Ela surge apenas como uma crença, quando você, como uma entidade, se separa do que está acontecendo. É sempre uma crença, uma ideia, a ilusão de alguém presente criando uma distância — “eu e o corpo”, “eu e a mente”, “eu e o mundo”… Como se houvesse duas coisas!
Aqui está, diante de você, o desafio desse trabalho, que é se aproximar intimamente dessa constatação; o desafio de não se separar para não produzir conflito, sofrimento, ilusão. Quando você se separa, você cria o conflito. Não se separar significa parar com essa guerra, parar com o medo, parar com o sofrimento. Você deve fazer esse trabalho agora, nesse instante, até que Isso comece a tomar forma, até que Isso comece a assumir o lugar que precisa ter aí.
Lembre-se que você está indo no sentido inverso — a ilusão da separação, a ilusão da mente egoica está indo para uma direção e você está indo para o sentido inverso; a mente egoica, a mente separatista, a mente ilusória, está indo e você está voltando. Você está saindo dessa rota, dessa via, dessa mão, está saindo dessa estrada! Você está saindo do ego, da dualidade, da ilusão, de Maya, do sono, da inconsciência, da mente egoica, da história da pessoa… Você está muito acostumado com essa estrada, com essa via e, agora, você está pegando uma outra via: a via de volta… de volta para casa.
Casa, aqui, é sinônimo de Felicidade, Liberdade, Consciência, Sabedoria.
Namastê!