Satsang é a revelação de sua Real Natureza

Satsang é a revelação de sua Real Natureza. Isso é algo semelhante ao fim do capítulo de um livro – é o fim do “capítulo” de sua vida. Satsang termina com a crença de que você é uma entidade separada no mundo, movendo-se, escolhendo, envelhecendo e destinada a morrer. Antes de Satsang, esse é o “capítulo” de sua vida. Satsang é o final desse “capítulo”.

Quando esse “capítulo” termina, algo tem início… Acontece o começo de um novo momento, o qual nós podemos chamar de Realização ou Despertar da Verdade, da Sabedoria, quando a compreensão, em diversas áreas de sua vida, assume uma posição inteiramente nova, diferente. Isso se reflete na maneira como você pensa, sente, percebe, se reporta e se relaciona com a vida. É o fim de um processo conhecido, comum, ordinário, que vem sendo aceito como algo natural, mas sempre insatisfatório, no qual a maioria vive. É o começo do reconhecimento dessa Verdade sobre você mesmo, que representa o fim da ignorância acerca de si próprio.

Nessa nova fase, nesse novo início, há um real Ser, um real Eu… Eu Sou! Esse “Eu”, nessa frase “Eu Sou”, assume um sentido completamente diferente. Esse “Eu” significa Presença ou Consciência, que é Aquilo que conhece, que está ciente – a real Consciência dos pensamentos, sentimentos e das sensações, que não se confunde com eles. Assim, o estado conhecido, comum, considerado natural nessa egoidentidade, termina. O “eu” que conhecemos antes de terminar esse “capítulo”, antes de Satsang, é um “eu” confuso, desorientado, desordenado, identificado com pensamentos e perdido em sentimentos, sensações e percepções, mas, nessa nova fase, isso muda.

Portanto, esse “Eu”, na expressão “Eu Sou”, refere-se a essa Consciência, a essa Presença. Reparem que essa Consciência, Presença, está sempre consciente de pensamentos, sensações, emoções, sentimentos e percepções. Porém, antes do final desse “capítulo”, o “eu”, na frase “eu sou”, é um “eu” em conflito, com medo, em sofrimento, inconsciente e levado pelas circunstâncias, por pensamentos, sentimentos e emoções. Esse é um “eu” que carrega o sentido de separação, de dualidade e de uma existência separada da vida como ela se apresenta. Na verdade, esse sentido do “eu” está ocultando sua Real e Verdadeira Natureza, que é Consciência, Presença, Paz, Felicidade – essa é a real condição de toda experiência no Ser, em seu Ser Real, Verdadeiro.

Isso explica porque há essa grande e profunda dor em seu coração, com a qual você cresceu; é a dor dessa entidade separada, dessa “pessoa” que você acredita ser, desse sentido de estar separado da existência. A maioria das pessoas tenta abafar essa dor vivendo cheia de objetos, pessoas, lugares e relacionamentos novos. Esse imaginário sentido do “eu”, dessa entidade separada, com essa profunda dor dentro, está sempre buscando paz, felicidade e amor em objetos, do lado de fora, em coisas e pessoas. Porém, na verdade, esse sentido de um “eu” separado não pode encontrar Paz, Felicidade, Liberdade, Verdade e Amor, porque ele se encontra carregado desse sentido de existência separada. É exatamente isso que está velando ou ocultando essa Verdade do Ser, da Presença, da Consciência, da sua Natureza Verdadeira, A qual, Nela mesma, é Paz, Liberdade, Amor, e não busca nada, não precisa de nada.

Isso é semelhante àquela mariposa que busca a luz: tudo o que ela quer é a luz, mas não pode tê-la. Quanto mais a mariposa se aproxima, mais o calor a assusta, e, ao mesmo tempo, mais fascinante aquela luz se torna para ela. Porém, ela não pode tê-la. O sentido de um “eu”, de uma existência separada, está sempre em busca da Paz, da Liberdade, da Felicidade, mas não pode encontrá-Las, a não ser que desapareça, como a mariposa desaparece no fogo. Essa é a única experiência possível para a mariposa, assim como é a única experiência real possível para essa entidade separada, essa “pessoa” que você acredita ser… É a única experiência real possível para a realização da Felicidade, da Paz, da Liberdade e do Amor.

Você não pode ter a luz e continuar sendo uma “mariposa”. Você não pode ter Deus e continuar sendo o “eu”, a “pessoa”! Não é possível “você” e a Verdade! Não é possível esse sentido de um “eu”, de pessoalidade, com seus conflitos, dilemas e problemas, e a Verdade da Consciência impessoal, do Ser, da Felicidade!

Talvez não faça sentido para você ouvir isso, a princípio. Talvez você esteja vivendo a primeira parte ainda, que é esse “capítulo” da vida tradicional, comum, aceita pela grande maioria como sendo real. É necessário o fim desse “capítulo”, dessa história… o fim dessa “mariposa”. Todos estão à procura disso, mas, equivocadamente, do lado de fora, em objetos, relacionamentos… tentando manter esse sentido de identidade, isso que eles acreditam ser. Porém, para esse sentido de separação, é literalmente impossível se livrar do sofrimento, do medo e do conflito, dessa dor profunda no coração.

É necessário desistir dessa ilusão de ser “alguém” com essa tradicional forma de sentir e pensar, que é quando a verdade sobre si mesmo é ignorada; quando a verdade da natureza da experiência é ignorada. Então, qual a verdade da natureza da experiência? A verdade é que não existe uma entidade separada nesse “pensar”, “sentir” e “ser”. É necessário tornar-se aberto, vazio, transparente… É necessário assumir essa Consciência, essa Presença, além dessa ilusão de separatividade, dessa “pessoa” que você acredita ser.

Assim, o coração pode ser saturado, pode viver essa saturação do sentido da Verdade, que é Paz, Felicidade e Amor. Essa Realização, essa saturação de Presença, dissolve todas as crenças. Nessa Realização, a Verdade revela-se como Amor, em toda a sua totalidade. Esse é, ou deveria ser, o mais alto propósito de toda arte, filosofia, religião e ciência: revelar a natureza do Ser, a natureza de Deus em você. Somente isso representa real Liberdade, Sabedoria e Felicidade. Sem isso, filosofia é mero intelecto, religião é puro ritual e tudo aquilo que nós chamamos de ciência fica a serviço de um propósito muito menor.

29 de março de 2017
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