Afinal, o que fazemos em Satsang?
Satsang é um momento onde você tem a oportunidade de descobrir a limitação em que você mesmo se coloca. Isso é algo basicamente simples de ser constatado e um pouco complicado de ser abandonado. Podemos até teorizar sobre isso e há muitas pessoas fazendo isso. Isso é algo que tem se tornado bastante comum – há muitas pessoas sabendo sobre esse assunto; há muita teoria sendo badalada, propagada, divulgada.
É necessário ter uma aproximação de profundo discernimento ou você continuará se enganando ou sendo enganado, porque somente teoria e conhecimento não bastam. Isso é como saber pilotar um avião virtual, na tela do seu videogame… Você pega seu pequeno avião, na tela do computador, e pode pilotá-lo, brincar de fazer guerra, de ser um piloto de um avião de guerra. Assim, também, você pode brincar com o conhecimento espiritual, ou Advaita, ou Neo Advaita. Você pode saber tudo sobre Isso e, mesmo assim, ainda se sentir como uma entidade separada e, lá no fundo, profundamente, secretamente, ainda ser “alguém” fingindo que é um ninguém.
Eu tenho falado muito sobre isso com o pessoal que se aproxima, porque estamos num momento onde a “sabedoria” da Vedanta está muito divulgada pela internet (tem muita gente aprendendo sobre isso). Depois que você aprende, que já conhece a teoria da Vedanta, esse assunto torna-se bem interessante e você também começa a falar sobre ele. Alguns falam sobre futebol, outros sobre política e outros falam sobre Realização de Deus, como se Isso fosse a coisa mais fácil do mundo.
Então, você confunde o que é simples com o que é fácil… É algo simples, mas não é fácil. Isso requer um trabalho sobre si mesmo, uma profunda investigação da Natureza do Ser. Por que estou lhe dizendo isso? Porque estou vendo isso acontecer! É necessária uma profunda honestidade, sinceridade e clareza de propósito para um verdadeiro trabalho acontecer. Eu tenho encontrado alguns bastante apressados… Eles chegam em Satsang, assistem a três ou quatro encontros presenciais, se aborrecem com alguma coisa, se afastam, evidentemente continuam lendo e estudando o assunto, e logo começam, também, a falar sobre isso.
Realização é o seu Estado Natural, onde, de fato, real e verdadeiramente, não há mais conflito, sofrimento, ilusão. Assim, o que eu lhe recomendo é ser muito honesto quanto a isso e investigar, com verdade, o que tem criado esse sentido de limitação e está sustentando essa falsa identidade aí presente. A minha primeira recomendação para todos é: investigue profundamente isso, de preferência em silêncio. Uma das coisas básicas, nesse trabalho verdadeiro, é o silêncio.
No primeiro contato com meu Mestre, com meu Guru, eu tinha apenas 24 anos de idade e somente 21 anos depois, quando definitivamente o sentido de separação terminou (eu não sei explicar ou colocar em palavras o porquê), veio esse impulso de compartilhar. Não houve uma escolha, uma determinação pessoal, um desejo ou uma ambição de poder para fazer isso – o que é muito comum no ego. Por isso eu tenho recomendado àqueles que se aproximam para deixarem a “semente na terra”… Você coloca uma semente na terra e não fica cavando toda hora para ver se ela já germinou; você deixa a semente lá, em silêncio, e um dia ela germina e frutifica por uma ação da Graça.
Pior do que estar identificado com o sentido de um “eu” presente, do que viver com esse sentido de uma egoidentidade, é ter um ego espiritual, um ego “iluminado”. Essa ampla divulgação do conhecimento espiritual, em razão da globalização da informação através da internet, tem facilitado isso. A natureza do ego é ser ambicioso, buscar o poder, desejar o reconhecimento e isso é muito complicado. O próprio Cristo dizia que quando um cego guia outro cego ambos caem numa cova; o cego não pode ser o guia de outro cego. Então, o próprio Cristo advertia quanto aos falsos profetas, que hoje são os gurus, e isso já é algo muito comum na Europa e em diversos países ao redor do mundo. Hoje há muito conhecimento, muita coisa sendo aprendida e o intelecto pode aprender tudo.
Então, eu diria a você que está neste encontro, aqui nesta sala: tenha paciência! Não tente acelerar o “rio”… Deixe o “rio” seguir o fluxo na velocidade dele, naturalmente. Em outras palavras: cave fundo, dentro de si mesmo! Observe suas reações, esse movimento interno! Tenha cuidado com essa armadilha do autoconvencimento ou do convencimento alheio… Não caia nela! Afinal de contas, é a sua vida e não a vida do outro. Descubra sua Real Natureza, a Verdade sobre si mesmo! Vá além da dualidade!
Nesse sentido, o Silêncio é importante. Estar diante de uma investigação verdadeira é muito importante. Um cego não pode guiar você sem o perigo de cair no buraco com você. Em outras palavras: o ensinamento intelectual, um mero conhecimento teórico, que o ego tenha sobre Isso, não irá ajudar. Quando um ego dá a mão a outro ego, ambos continuam na egoidade.
Quando você vai à Índia (como nós, que já estivemos lá), também vê muitos gurus, muita gente ensinando, muita gente que tem alguma experiência com a meditação, algum contato com essa Presença e, portanto, também tem alguma Presença ali… É “alguém” bonito! Quando você carrega certa Presença de Deus, você fica bonito! Então, você tem certo silêncio, certo olhar… um “charme” divino, vamos chamar assim. Todavia, não se impressione com isso, porque é somente um ego espiritualizado e isso não é algo fácil de discernir.
Eu estou dizendo isso para você: não assuma esse papel, nem entre nesse jogo com aquele ego que assumiu isso, senão você estará numa armadilha. Essa Realização é resultado de um verdadeiro trabalho nessa direção. Você só pode levar o outro até onde você chegou.
O que eu descobri, ao longo desses anos, é que há pouca honestidade no ego. O ego não tem honestidade, sinceridade e paciência para realizar Isso. Então, o que ele faz? Ele cria isso, se auto-hipnotiza… Aquilo que acredita existir, o ego cria.
Se você for a um manicômio, você descobrirá “grandes personagens da história” – “Adolf Hitler” está lá, “Napoleão Bonaparte”, também, está. Certo dia fui visitar alguém que estava internado e fui apresentado a “Pedro Álvares Cabral”. Quando você acredita que é Pedro Álvares Cabral, fala como Pedro Álvares Cabral; se acreditar que é Napoleão, você falará como Napoleão. Se você acredita que é um iluminado, falará como um Iluminado. Se você, também, estiver procurando Pedro Álvares Cabral, você irá encontrá-lo, assim como, se o seu desejo de se encontrar com Napoleão for muito grande, você encontrará o “seu” Napoleão… É a busca por algo rápido, sem paciência, sem honestidade, sem sinceridade. Assim, são os dois lados da mesma moeda. Essa moeda é a armadilha do ego.
Eu quero lhe recomendar isso: vá para dentro! Seja sincero, honesto e paciente! Renda-se à Graça, à sua Divina Verdade, a Deus, e Ele conduzirá você. Se você tiver isso – sinceridade, honestidade, paciência – e um coração verdadeiro para Deus, uma oração sincera no coração, você não será enganado, não se deixará enganar… Há algo dentro de você que irá lhe mostrar, e “esse” algo é seu próprio, real e verdadeiro Guru.
Ok? Vamos ficar por aqui! Valeu pelo encontro! Namastê!