Essa aproximação da Verdade sobre si mesmo, sobre si mesma, é um contato com a Realidade que transcende as limitações que o pensamento tem produzido, ou está além delas. Tudo que você conhece está dentro daquilo que o pensamento tem produzido. O contato com a Realidade é o contato com o Divino em você, que não é “Ele e você”. O Divino em você é Ele sem você, porque tudo é Deus… Tudo é essa Realidade, essa Verdade.
A minha dificuldade com vocês é ajudá-los no sentido de abandonarem tudo que o pensamento tem produzido, aí, sobre como a sua vida deve ser. Primeiro: não há a “sua vida”, só há a vida Dele, e a vida Dele é Ele. Para nós, a vida tem opostos. Assim, tem a vida e a morte – esse é o conceito que temos de vida, em que “vivos são vivos”, porém, para a Realidade, que é Deus, a Vida é a própria natureza das formas… É a natureza última das formas, que são como bolhas de sabão e explodem. Então, você vê a forma, mas esquece o vazio presente na bolha, interno e externo à película. A forma é como essa película, que oculta o vazio (“dentro” e “fora”).
A Natureza é o vazio e ele não está dentro nem fora… É somente o vazio. A película é a forma, só uma aparição temporária, e a essa aparição temporária você dá o nome de vida, “a minha vida”, “a minha existência”, “a pessoa que sou”. Não tem pessoa! Você briga por essa “bolha”. Confundindo-se com a película, você diz para outras “películas” à sua volta: “eu sou uma pessoa mais importante que você”; “olhe o tamanho da minha beleza”; “olhe como eu sou grande, como eu sou fofa, fofo”. Então, toda confusão que você tem na “sua vida” está baseada no conceito de bolha de sabão… Uma bolha que agora é e, daqui a pouco, não é mais; aparece e daqui a pouco desaparece, assume essa ou aquela forma ao reflexo do sol… É, também, como a cauda do pavão, que se abre e mostra muita beleza, mas, daqui a pouco, aquela cauda cai – o pavão fica sem cauda, parecendo uma galinha grande, aquela beleza toda se foi… Ou fica pior que uma galinha, porque você olha para os pés e diz: “Que pés horríveis!”. Tudo vaidade, vaidade, vaidade…
Quando você vem a Satsang, eu olho para você e digo: “vamos lá! Vamos soltar isso; soltar essa ilusão de ser cauda de pavão, película de bolha de sabão”. Eu digo mais, e um pouco mais: “solte isso! Você está muito agarrado a isso! Largue tudo por isso”! Então você diz: “mas eu tenho tanta coisa… Olhe o meu brilho diante do sol”. É tudo artificial, espelhando o ambiente, e nada interno e real… Somente um subproduto social, cultural. Esse é o seu brilho de “bolha de sabão” – um produto social, como sua cultura, sua formação em terceiro grau, seu doutorado, pós-doutorado, seu carro importado, a sua conta no banco. Todo esse brilho é como a artificial e temporária beleza do pavão, quando a cauda se abre, mas que se fecha e, em determinado mês do ano, ela cai toda. Assim, o pavão perde a cauda e espera brilhar no próximo ano, de novo, numa próxima manifestação da Consciência. Porém, tudo é essa Consciência se manifestando… Não tem você!
Então, a sua vida não é a “sua vida”; é a sua vaidade, arrogância, presunção, ilusão; é o seu medo! O que será você sem a sua “cauda”? O que será você sem as coisas que acumulou durante tanto tempo, que lhe dão tanto brilho e fazem, até, você flutuar?
A Realização é o reconhecimento de sua Natureza Real… É a riqueza Real!
As pessoas ficam aborrecidas comigo, quando eu digo que a espiritualidade, também, faz parte desse brilho artificial da bolha de sabão, faz parte dessa cauda enorme do pavão, fazendo dança de acasalamento para atrair a fêmea. Elas ficam aborrecidas, quando eu digo que toda essa espiritualidade é, também, uma coisa apreendida, cultivada e herdada da estupidez humana, da ignorância e do desejo da mente de chegar onde ela não pode; de alcançar o ilimitado sendo limitada; de tocar o desconhecido, sendo ela o conhecido. Elas ficam aborrecidas comigo, quando eu digo que elas têm que abandonar tudo isso, porque Deus não é espiritual. Deus é Natural!
Deus é a natureza da manifestação, que é somente uma expressão brincalhona de sua Presença e Graça. Ele não faz isso para se exibir, tentando chamar atenção para Si, dizendo “me adorem, sejam espirituais para me conhecer”… Ele não faz isso! Foi a mente que construiu isso; os sacerdotes, os padres, os gurus construíram isso. A Realidade é a natureza do Ser, é o que há de mais oculto, secreto, silencioso e íntimo em você. Isso é Deus! Não tem nada de espiritual nisso. A Santidade é o reflexo dessa Graça e Presença oculta, silenciosa e íntima, dentro de você, que não tem nada a ver com espiritualidade, com essa coisa educada, ética, com base no comportamento apreendido. A Santidade é uma expressão do Coração amoroso, silencioso, divino, sagrado e sábio que você traz dentro de si! Quando Isso floresce, o Amor floresce, a Liberdade floresce, a Compaixão floresce, a Felicidade floresce, a Sabedoria floresce.
Na Índia, eles chamam de Jivamukti, que significa “aquele que está liberto em vida”… Liberto da ilusão dessa auto identidade e do medo, que carrega o juízo, a comparação, o preconceito, a vaidade de diferenciações e de acepção de pessoas, que carrega tudo isso. O medo carrega tudo isso. Aqui não se trata de palavras; os livros estão cheios delas. Eu não preciso de palavras. Eu não sou um palestrante. Eu não sou um advogado, um médico, um professor… Eu sou Deus! Você é Deus! Satsang é Consciência, é Presença! Satsang é Liberdade, é Sabedoria. Satsang é conhecer a si mesmo, todo o tempo.