Esse é sempre um momento de investigação. Esse é o Real Satsang, que é um momento não intelectual. No ego se dá muita importância ao intelecto. Quando chegam alguns novatos, eles trazem, geralmente, muitas questões. Em Satsang, não estamos interessados em respostas, mas na direta percepção. É por isso que você está aqui. Você se encontra nesse espaço para perceber diretamente e não para entender intelectualmente. Quando identificado com o corpo e com o processo do pensamento, seu interesse intelectual é muito forte e você acredita que, quanto mais entende intelectualmente, mais avançado está. Na verdade, mais confuso você está. Quanto mais entende intelectualmente esse assunto, mais confuso você se encontra. Esse não é um assunto intelectual.
Sabedoria não é nada intelectual. O conhecimento é intelectual, a Sabedoria não! Aqui, o propósito é irmos exatamente além dessa limitação do intelecto, porque a grande verdade é que, quanto mais você sabe, mais confuso você está. Quanto mais você conhece, entende, aprende, muito mais intelectual se torna e mais confuso fica. É sempre o ego que quer saber, pois ele tem que conhecer, e, para mim, esse é um dos claros sinais de verdadeira insensibilidade a essa percepção que vai além da dualidade. O entendimento intelectual está dentro dessa dualidade. Eu falo dessa percepção direta, que significa estar cônscio, ciente, daquilo que se apresenta, que está diante dos olhos. Essa percepção lhe dá sabedoria, não dá conhecimento. Está presente no “não saber”, no “não conhecer”, nesse “ver de uma forma direta”, não dual. Está claro isso?
Isso é algo diferente do que você está acostumado a ouvir. É contrário a todo “nosso” aprendizado, treinamento, condicionamento. Digo “nosso”, porque é o condicionamento que recebemos desde a infância. Aqui estamos diante de algo que é fascinante, de extraordinária beleza e Graça! Quando eu confesso para você que, por exemplo, você não é o corpo e a mente, que você é essa Presença do “Eu Sou”, não basta isso ser intelectualmente apreendido, guardado, decorado, compreendido. É necessária, sim, uma compreensão, mas não intelectual, pois esse tipo de compreensão é algo inteiramente diferente do que estamos tratando em Satsang. Aqui, estamos falando da direta compreensão que está nessa Percepção.
Então, essa questão fica muito clara quando confesso a você que Eu não sou o corpo, nem a mente, que Eu Sou essa eterna Presença. É claro que, quando usamos aqui esse pronome “Eu”, não estamos nos referindo à pessoa, mas sim a essa Presença, que é onipresente. Essa Presença não é algo particular de um corpo chamado Marcos Gualberto. Não estou falando sobre Marcos, ou João, ou José, ou Maria. Esse “Eu Sou” inclui todas essas aparições. Eu não estou falando de “mim mesmo”, desse “você mesmo”, dessa “pessoa”, mas o intelecto pode pegar esse pronome “eu” e tornar isso algo pessoal, que é o que ele faz muito bem. Quando você faz isso, mais uma vez está confuso.
Portanto, quando eu me refiro a esse “Eu Sou”, refiro-me a cada criatura, manifestação, aparição. Esse “Eu Sou” é essa Absoluta Realidade. Esse “Eu Sou” é sem nascimento e sem morte. Esse “Eu Sou” não desaparece, não tem começo e não tem fim. Esse “Eu Sou” é eterna Beatitude, Bem-Aventurança, Felicidade! Portanto, esse “Eu Sou” é Nirvana, é Reino dos Céus, é tudo! Esse “Eu Sou” é nada! Nesse “Eu Sou” não há nenhuma criação e nenhuma destruição!
Assim, não há como apreender o significado disso intelectualmente, mas sei que alguns têm tentado esse tipo de coisa. Alguém vai a uma palestra, ouve uma fala, decora algumas palavras e as repete, porém, essa não é a compreensão da qual eu falo; é uma compreensão meramente intelectual e isso não serve para nada! Isso ainda está nessa dimensão do “eu”, na dimensão da “ego-consciência”, da “mente-consciência”, da mente em sonho – em completa inconsciência, portanto.
As pessoas, quando vêm falar comigo, dizem basicamente as mesmas coisas. Elas trazem sempre as mesmas questões, como: “Como eu resolvo esse problema?”. Quando elas descobrem acerca dessa possibilidade da Realização, de ir além de todos os problemas, querem resolver esse “problema”: o problema da Realização. Elas sempre têm problemas. Primeiramente, os problemas pessoais, e, depois, surge o problema de “ir além da pessoa”. A mente está sempre criando problemas, sejam eles para a “pessoa” ou para a crença de uma suposta “não-pessoa”. Então, as pessoas perguntam: “Como posso ‘me’ autorrealizar?” Geralmente, elas querem Isso de forma rápida. De preferência, sem Satsang presencial, sem nenhum desconforto, “assistindo ao final do campeonato de futebol”.
É como uma pessoa nadando em um rio e reclamando que está com sede. O problema delas é a sede, embora estejam dentro de um rio. Estão pedindo por água mesmo nadando em um rio. Essa Realização é a sua Real Natureza. Portanto, Isso não é um problema. O problema é a ilusão de ser uma pessoa, o que traz todos os outros problemas para a “pessoa”. Então, a “pessoa” quer se livrar dos problemas, mas ela é o problema; a ilusão de sua identidade separada é o problema. Assim, a sua sede é a ilusão da falta de água; é a ilusão de uma existência separada. No rio, que é pura Consciência, a ilusão é uma entidade presente nadando e sofrendo de sede. Então, quando elas perguntam como resolver os problemas, é algo muito engraçado para mim. Acompanham isso?
Você está preso à experiência “corpo-mente-mundo”, como uma entidade (“pessoa”) presente nela, e isso é o que chamam de Maya na Índia: a ilusão do sentido de separação. Por estar preso a esse condicionamento, você está preso a essa ilusão da sede, da falta de água, mesmo estando cercado por ela, havendo água por todos os lados. Pela manhã, quando você caminha pela rua e, de repente, escurece, você olha para cima e percebe que o sol, momentaneamente, está oculto por detrás de algumas nuvens, mas você não diz que não tem sol. Você se mantém tranquilo, não se apavora, se assusta ou se perturba, porque sabe que o sol vai aparecer de novo. Não é assim? Você continua caminhando e sabe que daqui a pouco vai clarear tudo de novo, porque o sol está lá. Aquilo é só uma nuvem. Assim, você apenas aguarda a nuvem se dissipar, e, então, o sol brilha novamente, em todo o seu esplendor, em toda a sua glória. Não é assim? É exatamente assim.
Da mesma forma, você é o Divino, é a Consciência, é Deus, é a Verdade, é esse Radiante e Indescritível Sol, essa Indescritível e Radiante Luz. São apenas as nuvens da ignorância que aparecem e cobrem o Sol. Quando isso acontece, você acredita que é uma “pessoa”, um “ser humano”, e fica assustado! Então, você se depara com todas as situações que aparecem e as transforma em situações de ordem pessoal. Se elas são agradáveis, você se sente muito feliz, pessoalmente, e, se são desagradáveis, você se sente triste, deprimido, pessoalmente também. Assim, o que é bom é a “boa sorte” e o que é ruim é a “má sorte”, quando você acredita que tem problemas. Cansado disso, você vai em busca desse Despertar, dessa Realização. Começa a estudar Advaita e a fazer diversas práticas espirituais. Agora, você se encontra com outro problema, que é o “problema da iluminação”. Portanto, há sempre nuvens.
Eu quero dizer para você: não há nada errado! Você pensa que há algo errado, porém essa sensação criada pelo pensamento de que há algo errado é um condicionamento mental, um modo de aproximação e pura interpretação daquilo que acontece. Algo intelectual, mental. Então, você pensa que existe algo errado em algum lugar – algo errado com você, com o mundo, com os outros. Eu lhe garanto que tudo está no lugar em que precisa estar! Mesmo o que está “fora do lugar”, ainda está no lugar em que precisa estar, e até que aquilo “entre no lugar”, o lugar dele é aquele onde ele se encontra.
A ilusão diz que você vai controlar isso e, portanto, que você vai acertar as coisas. Entretanto, eu lhe garanto que as coisas se acertarão no tempo e da forma em que elas se acertarão, e até elas se acertarem, as coisas estarão no lugar. Tudo é essa Absoluta Presença, Absoluta Realidade. Tudo é o que é, e essa é a sua Verdadeira Natureza. Não há nuvens, ou, se aparecem nuvens, isso não pode encobrir a Realidade dessa Presença, dessa Consciência. Ela está sempre lá, brilhando, radiante.
Alguns de vocês estão começando a perceber que, quanto mais estudam e aprendem, mais confusos e estúpidos se tornam; ficam mais barulhentos, inquietos e agitados internamente – uma mente sem espaço, inquieta, tagarela. Portanto, não adianta se envolver em todo tipo de coisa, ficar para cima e para baixo, caminhando de religião para religião, de guru para guru, de escola para escola, de prática para prática… Existem muitos ensinos, estudos e livros, muito a aprender e sobre o que ouvir, mas tudo isso é tremendamente inútil. O que você precisa é ir além desse sentido de separatividade, além da dualidade, e o intelecto não pode fazer isso, porque ele não consegue e não tem como fazer isso. Todo o esforço pessoal é um esforço que gira em torno da própria “pessoa”, pois tudo o que a mente procura é aquilo que está dentro do campo dela; não pode estar fora. Para o ego isso é algo desesperador, porque ele sempre pretende fazer algo.
Algumas pessoas perguntam como isso aconteceu aqui, a Marcos Gualberto, e eu falo de Ramana. Então, elas perguntam: “Você tem Ramana como seu Guru? Ele foi seu Guru?”. Minha resposta é muito clara quanto a isso. Eu considero Ramana como Eu mesmo, como Aquilo que Eu Sou. Eu olho para ele como algo muito maior do que um Guru. Hoje, claramente, eu posso olhar para ele como o próprio Universo, como a própria Vida, Nela mesma, e isso não é outra coisa a não ser Aquilo que Eu Sou. Assim, ele é simplesmente outro aspecto de Mim mesmo. Quando ele me encontrou, eu prestava reverência a ele, e havia algo aqui claramente me mostrando que essa era uma reverência ao meu íntimo Ser, a Mim mesmo. Então, isso é tratar o Guru como a Si Mesmo. A palavra “guru” significa mestre, aquele que dissipa essas nuvens, as nuvens da ignorância. A palavra “guru” significa “aquele que dissipa a escuridão” e, aqui, dissipar a escuridão é dissipar essas nuvens aparentes, passageiras. O Guru é aquele que dissipa essas nuvens e, então, Aquilo que já está presente, que é essa Presença, essa Graça, essa Verdade do “Eu Sou”, que está aí, se apresenta.
Ramana esteve fazendo exatamente aquilo que estou fazendo hoje. Ele estava apenas confessando a Verdade de sua Real Natureza; não estava ensinando. Era um trabalho de Despertar! A questão está em despertar o aluno, o discípulo, para a Verdade de sua própria Natureza. Não se trata de ensinar ao discípulo Aquilo que ele é, mas de fazê-lo ver Aquilo que ele é. Ele, Ramana, estava apenas confessando essa Verdade sobre ele mesmo. As pessoas iam e podiam se assentar diante dele e perceber que não havia “pessoa” presente.
Nesse momento, os pensamentos, as perguntas e os problemas desaparecem, porque as nuvens desaparecem, e aí a Presença do Guru é a mesma Presença do discípulo. Então, não há “Guru”, nem há “discípulo”. Temos apenas essa única Presença nessa real confissão. A beleza de estar diante do Guru, de um Mestre vivo, é que você pode se encontrar com Aquilo que você é! Além das formas, dos nomes, das aparências, você pode se encontrar com essa Realidade, com a Verdade de sua Divina Natureza. Ramana olhava para todos à sua volta como olhava para si mesmo. Ele nunca se dizia Mestre.
Quando você vai a um Mestre, não é ele quem diz que é um Mestre. É você quem faz isso. Ramana olhava para todos como a si mesmo. Essa era a sua confissão: não havia ninguém separado dele. Quando você vai a um Mestre, você está indo a si mesmo. Enquanto existir essa ilusão da separação, da separatividade, de entidades presentes dentro de uma experiência, não haverá Verdade. O Guru é a Verdade, e ele não vê alguém separado dele. O discípulo vê assim; a mente vê assim. Claro isso? Portanto, a Realização é uma questão de despertar, não de ensinar alguma coisa para alguém, porque não há “alguém”.
Assim, aquilo que você sente é um equívoco, porque sente a partir dessa ilusão da separatividade. Quando você vê o Guru como sendo uma “pessoa”, você o julga, o ama e o odeia como a uma “pessoa”. No entanto, o Guru está em outra confissão, na qual não há dois, não existe o sentido de separação. Nessa confissão, ele não depende do discípulo, porque não há discípulo, não há dualidade, não existem os dois lados da moeda. O Amor, essa Consciência, Presença, Verdade, Liberdade, Felicidade, não conhece esses dois lados da moeda. Somente aquilo que a mente produz como sendo liberdade, consciência, verdade ou amor, que sempre está dentro de uma dualidade, carrega o oposto junto.