O que geralmente esperamos quando vamos a um encontro, a uma palestra, a uma conferência? Quando vamos a um desses lugares, vamos com a intenção de descobrir alguma coisa que possa funcionar para nossa vida, para que possamos acertá-la, colocá-la numa direção. Mas, olhem para vocês… Há muito tempo já fazem isso! Se não estão numa conferência presencialmente, estão “acompanhados” de algum livro novo. É como aquele que procura uma receita para um novo prato. É assim que tem sido.
Então, vocês não só trocam de palestrante, mas, também, de guru, como você que já está vindo de outro para cá, não é? Daqui você vai para um próximo. Vocês ficam assim: trocando de livro, de guru, de palestrante… Não dá para trocar de mulher tão facilmente, por não ser tão simples, mas alguns até trocam. Trocar de filho também fica mais difícil, mas mudam de casa, de emprego, de guru, de religião, de médico… querendo algo que funcione. Parece até razoável essa mudança. Em alguns aspectos, é aceitável ou tolerável, mas quando falamos da Realização de Deus, da Realização da Liberdade, da Felicidade, da Realização da Sabedoria, isso não se aplica.
Você não precisa de mais conhecimento, de mais experiência, de melhor comportamento, de melhores ações, hábitos, ou adquirir novas virtudes e liberar-se de antigos vícios. O que você precisa aqui é render o ego, mas ele não vai fazer isso. Por que as pessoas amam ouvir palestras ou recitar poesias? Porque é algo inofensivo, não vai atingi-las. É assim quando você lê um livro, uma poesia, ou quando assiste a uma palestra, pois você está diante de algo impessoal.
Por que vocês não fazem a pergunta correta? Qual é a pergunta correta? Quem está interessado na pergunta correta? Se tivessem interesse na pergunta correta, estariam formulando-a para si mesmos. Autoajuda, terapias, ensinos espirituais, práticas espiritualistas, nada disso resolve. O que resolve é o abandono da ilusão, daquilo que tem produzido todo o medo, o qual se reflete em todo tipo de comportamento – desonestidade, insinceridade e descaso com o que é, com a Verdade, com o que se apresenta. Vocês não querem ver o que se apresenta. Não estão dispostos a fazer a pergunta correta, porque não querem ver o que está, de fato, mantendo essa ego-identidade. Basta uma ligeira aproximação disso e vocês correm, pois tudo o que os fere, magoa, ofende, aborrece, entristece, chateia, não dá prazer e não preenche emocionalmente, psicologicamente, fisicamente, então vocês rechaçam, jogam fora, vão atrás de outra coisa. São centenas, milhares de exemplos que se apresentam para mim no dia a dia. O que falam, escrevem, como se comportam, o que exigem de si mesmos, o que exigem de mim, o que exigem da vida, mostra-me claramente isso.
Não é a Verdade, é o consolo; não é o que é, mas sim o que você quer que seja; não é a vida como ela se mostra, é o que você projeta como um ideal de vida para esse “mim”, para esse “sentido do eu” – é nisso que você está interessado. Nós vemos toda essa confusão, essa coisa cômica e dramática no mundo, porque o mundo é uma extensão maior da sua vida particular: tem confusão dentro, há confusão fora. Na sustentação da imagem de si mesmo não há Liberdade, Consciência, Verdade e, assim, não há Paz, Amor, Felicidade.
A minha pergunta é: o que você veio fazer aqui? Você não está aqui para aprender algo comigo. Você está aqui para descobrir o que você é, mas isso não é possível – como se acredita por aí – ouvindo falas, palestras, escutando um especialista que sabe algo que você não sabe, que vai lhe comunicar algo que você não conhece, afirmar e confirmar palavras nas quais você acredita, porque já leu isso em algum livro.
Conhecer a si mesmo não é algo acrescentado a você. É algo presente no instante em que o sentido de separação cai. Não é uma teoria, um conceito ou algo que você aprendeu. Conhecer a si mesmo significa estar fora do sentido egoico, do sentido de ego-identidade. Assim, o conhecimento sobre Isso não é Isso. A Realização da Verdade sobre si mesmo não é uma teoria, é algo que se evidencia no viver, na vivência direta. Escritos, falas, poemas, recitações, nada disso é real aqui, no fim desse sentido de dualidade, de separação.
Portanto, não se trata de acrescentar a você alguma coisa que você não tenha, mas sim de soltar a ilusão que você carrega sobre quem é você. Isso não se aprende! Isso é como cavar um buraco e encontrar um baú antigo, debaixo da terra, cheio de moedas de ouro. Houve um trabalho e o encontro de algo, mas você não aprendeu nada. A Realização é assim. Esse baú já está lá, cheio de moedas de ouro, mas requer um trabalho [para encontrá-lo]. Se acontece o trabalho, acontece o encontro, mas ficar ouvindo sobre um pedaço de terra, onde há um baú enterrado, não vai resolver. Portanto, não adianta ficar ouvindo sobre o Estado livre do ego, da dualidade, sobre Beatitude do Ser, Consciência e Verdade.
Então, o que significa cavar esse buraco? O que significa desenterrar esse baú? Você é vaidoso, orgulhoso? Tem medo de ser magoado, ofendido? Tem medo da mulher, do marido, dos filhos? Tem medo de adoecer, de envelhecer? Tem medo de morrer? Tem medo da crítica, de ser ridicularizado? Tem inveja, ciúmes? Você tem coisas? É dono de quê? Onde está o “sentido do eu” nessa experiência que você chama de “minha vida”? É isso que tem que ser desenterrado! Compreendem o que eu quero dizer? Você tem inimigos? Tem amigos? Tem pessoas de quem você gosta e outras de quem não gosta? Estamos falando de desenterrar isso. Está vendo como é prático? Não tem nada a ver com teorias! O que se passa na sua cabeça? Quais os pensamentos que predominam aí? É de aquisição material? É com a imagem de alguém poderoso? O que predomina? Com o que a sua mente se ocupa? Com o que você se ocupa, psicologicamente, na maior parte do tempo? É com o futuro? É com o passado? Está vendo o que é “cavar”?
Sua vida gira em torno de quê? Família, como mulher, filhos, netos? O que se passa aí dentro? Do que você depende? De atenção, prestígio, reconhecimento do outro? O que você teme? O que, se lhe faltasse agora, faria você entrar em desespero? Qual ente querido lhe faria falta se morresse hoje? Quem é importante para você? Qual é a pessoa mais importante na sua vida? Compreendem o que eu chamo de “cavar”? Isso não é uma coisa para aprender! Todo esse blá-blá-blá Advaita, ou Neo-Advaita, que está por aí, não serve para nada. Na verdade, isso pode envaidecê-lo mais ainda, porque agora “você tem um conhecimento que outros não têm”, “sabe o que outros não sabem”. Pode até escrever livros, recitar poemas, fazer vídeos e palestras sobre isso.
Compreendem? O ego se tornou mais poderoso ainda! Para si mesmo, é claro. O ego só é uma realidade para si mesmo. É nele mesmo, na autoimagem, que ele se sente mais poderoso. Pura vaidade! Tudo isso você faz por medo. Você tem medo de ver a futilidade, a inutilidade que é esse “sentido do eu”, a estupidez que é carregá-lo. Então, você está sempre tentando preencher isso com alguma coisa, como agora, com o conhecimento espiritual ou Advaita ou Neo-Advaita. Por isso que você se mete em todo tipo de prática, de ensinamento, de conhecimento, de experiência.
Está claro isso? Está difícil acompanhar? Onde você encontra esse “baú”, então? Como você o “desenterra”? É sendo alguma coisa ou descobrindo que não há nada? Não há nada em lugar algum! Não há nada em parte alguma! Então, o que é que você veio fazer aqui?