A Verdade, necessariamente, é algo presente agora, aqui, nesse momento. Nós não vamos produzir, trazer ou imaginar isso. E aí surge a pergunta: o que é a Verdade? Por que ela parece estar tão oculta? Uma vez que Ela está presente, por que Ela não se apresenta, afinal? Onde é que Ela se esconde, já que Ela é algo que está como base, como essa Realidade, como Aquilo que, sendo um fato, não pode ser negado?
Você tem sempre a sensação de que há duas coisas presentes: aquilo que observa e aquilo que é observado. Por exemplo: neste momento, você tem a impressão de que você está ouvindo e eu falando. Assim, nós temos duas coisas aparecendo. Então, a minha sugestão para você é: aproxime-se dessa experiência colocando o pensamento fora dela. Agora, por exemplo, enquanto você escuta, fique no “ouvir”, mas sem o pensamento sobre o que você escuta. Isso você pode aplicar em qualquer experiência sensorial, seja auditiva, visual, tátil…
Geralmente, o que fazemos nesses momentos é nomear, classificar, aquilo que experimentamos. A mente egoica tem a necessidade de se separar da experiência, e faz isso classificando, procurando segurança, pois o que ela ama é essa separação entre essa experiência de ouvir e “alguém” para ouvir. “Alguém” ouvindo vai concordar, discordar, aceitar, rejeitar, apreciar, gostar… e isso vai somente validar, a cada momento, a ilusão de duas coisas acontecendo, a ilusão da dualidade, a separação entre “alguém” e o que esse “alguém” escuta.
Aqui estou lhe dando algo muito prático, o trabalho a ser feito. O trabalho é: fique com a experiência, mas não entre nela. Isso é a base da Meditação e é Ela que torna clara a Realidade, a Verdade presente aqui e agora, nesse momento.
O único trabalho necessário é Meditação, agora, nesse momento, diante dessas palavras, do que os olhos estão vendo, da sensação que o corpo experimenta, sentado aí no sofá, na cadeira, ou deitado na cama… A pura sensação desse instante, seja auditiva, visual, etc. Se enquanto esse “ouvir” estiver acontecendo, a boca estiver mastigando alguma coisa, fique apenas com a sensação do paladar. Todo o seu condicionamento é de “alguém” nisso. Esse “você” sempre está aí, o que é uma ilusão. Nunca tem “você” aí, tem somente a experiência, mas é o pensamento que diz que tem “você” aí. Esse é o hábito, o vício dessa continuidade.
Você tem escutado muitas falas por aí que tratam da não dualidade, mas não lhe dão o trabalho para a constatação disso. Eu estou lhe dando o trabalho, sinalizando para você a única coisa que precisa ser trabalhada, o que é algo básico e simples. Embora possa parecer, a princípio, muito complicado, ainda é a parte mais fácil. A parte maior é da Graça, é dessa Presença, dessa Presença de Deus. Essa Presença, Deus, o Guru, faz o trabalho pesado.
Não há separação alguma na experiência. Ouvir, falar, caminhar, sentir frio, calor, são sensações. Você não separa a sensação, daquilo que sente; não separa o calor, do corpo que queima; o ouvir, dos ouvidos que escutam; o doce, do paladar. O que eu quero dizer é: o calor é sentido aí, sem separação; o som é sentido aí, sem separação; o sabor é sentido aí, na língua, sem separação. Você não separa o experimentador da experiência; é uma coisa só! Quando os seus olhos estão diante de um objeto, não há você e o objeto nesse olhar; há somente o olhar, não há separação. Tudo acontece dentro desse mecanismo, desse cérebro, dessa “máquina”, mas você não separa o que acontece dentro, daquilo que acontece fora. Não há separação.
A ilusão é que tem “alguém dentro”, que está nessa experiência, mas eu estou dizendo que há somente essa experiência. Esse “alguém dentro” está classificando a experiência para o seu conforto, sua segurança, sua crença, para a validação de uma entidade presente. Isso está claro? Isso vale para qualquer sensação externa, sensorial, como para qualquer sensação interna.
Com o pensamento, portanto, é a mesma coisa: você não separa o pensamento do pensador. A ilusão do pensador cria o pensamento como algo separado, e o pensamento cria a ilusão do pensador, mas você não separa o pensamento do pensador. Isso vale, também, para uma emoção: ela não acontece fora. Ou seja, o pensamento é um só movimento; a emoção é um só movimento; a sensação física é um só movimento. Então, a pergunta que eu fiz no início da fala foi: onde está oculta a Realidade dessa Verdade presente? Está oculta nessa ilusão de um “alguém” presente nisso. Não tem alguém! Isso é tão claro!
Participante: De onde surge essa ilusão?
Mestre Gualberto: Da ilusão de que há uma ilusão. Tudo isso é criado pelo próprio pensamento imaginando algo. O pensamento ama imaginar-se, imaginar a si mesmo como uma entidade separada, e aí cria o pensador. Então, de onde surge essa ilusão? Da ilusão! Quando fica constatada a ilusão da ilusão, não há ilusão. É maluco demais isso?!
Participante: O pior é que saber disso com toda clareza não muda nada.
Mestre Gualberto: Muda tudo, porque eu acabei de explicar para você o único trabalho que você tem para fazer. Coloque em prática isso e depois me diga se muda ou não muda. Quando uma voz estiver falando com você, a ideia é que “alguém” lá está comunicando algo para “alguém” aí. Nesse momento, interrompa isso, essa ilusão, pois isso é só a mente com ela mesma, dizendo coisas. Da mesma forma que ela fala dentro dessa cabeça aí, entre essas duas orelhas, fala através desse “outro”, mas é a mesma mente. Então, muda tudo! Se você percebe que isso é somente um jogo da mente com a mente, olha para isso e testemunha sem dar continuidade, você quebra esse modelo, esse padrão. O pensamento diz: “Não muda nada”, mas é por que ele quer a mudança. É um velho truque do pensamento dizer isso. Todavia, não vai mudar nada aí, pois já está tudo no lugar. Acompanhem isso fazendo esse trabalho e vocês verão.
Por exemplo: quando você não permanece nesse “ouvir”, você emite uma posição sobre o que está sendo colocado, como acabou de fazer, dizendo: “O pior é que saber disso com toda clareza…”. Ou seja, não há clareza! O ponto é esse! Quando há clareza, não há confusão, desordem, conflito, nem a necessidade de mudar alguma coisa. Está tudo claro? Então já mudou tudo. Você está habituado a viver norteado pelo pensamento, pela “pessoa”, pela ideia de “alguém” presente nessa experiência de ver, ouvir, pensar, falar, sentir, explicar, esclarecer, justificar. Você faz isso o tempo todo, numa relação ilusória com um mundo do lado de fora, onde tem namorada, noivo, marido, filhos… Então, isso produz medo, que só é possível nessa separação, nessa ideia “eu e o outro”, “eu de bem com o mundo”, “eu de bem com ele, com ela”… Mais claro dessa forma?
Estou colocando para você como trabalhar isso. Trabalhe isso agora, nesse “ouvir”. Se essa atenção está aí, você não se separa, dizendo: “Eu não consigo”. Quando você diz isso, quem entrou em operação senão o pensamento, já se separando, já ouvindo e interpretando? Ou seja, não tem nada claro, porque isso não está claro para o pensamento. Isso está claro, sim, mas não para o pensamento. Isso só opera a mudança, mas não opera a mudança para “alguém”, para o pensador. Isso acaba com o pensador, com esse que julga, avalia, censura; esse observador separado, que diz: “Não dá”; “Está muito claro”; “Já cheguei lá. Consegui”.
Quando convido você ao Satsang, eu o convido à arte de ouvir. E ouvir não é entender, é somente ouvir. Você passa todos os dias, o dia inteiro, entendendo coisas: liga a televisão, liga o rádio, escuta as notícias, conversa com alguém, recebe e-mail, recebe uma conversa no whatsapp… Quando convido você ao Satsang, eu o convido a ficar quieto. Não se trata de entender, mas apenas ouvir. Nesse “ouvir”, Aquilo que está claro (sem o pensador, o pensamento e a ideia a respeito) revela-se como Verdade, que é essa Realidade, que é a base de Satsang.
Não é para entender! Isso é Meditação, Consciência, Presença. Isso é o Despertar! É algo presente agora! Pode levar cinquenta anos [para esse Despertar], mas esses cinquenta anos são agora! Pode ser que esse trabalho leve cem anos, mas ele já terminou agora! Só termina agora, porque, na realidade, quando esse trabalho começa, termina. Não há uma progressão, uma evolução, nem é uma escada, pois você não vai galgando degraus. Você “solta” o pensamento, a crença; “solta” aquele que interpreta, julga, avalia, que diz “está claro” ou “está muito nebuloso”; “solta” aquele que diz “entendi” ou “não entendi nada”. Você “solta” isso e pronto: aí está a sua Natureza Real, Verdadeira.
Entenderam? Muito prático, muito direto. Isso é o fim do sentido da separação, da dualidade, dessa simples crença: “eu e aquilo lá” – um “eu” aqui experimentando o mundo lá, com esse “eu” se confundindo, naturalmente, com o corpo, o que é somente uma crença que o pensamento anda fortalecendo. E agora? Como está aí? Ainda está claro ou está escuro? Está fácil ou está difícil?
Participante: Sempre bem na Sua Presença.
Mestre Gualberto: Essa Presença que Eu Sou é essa Presença que Você É. Sempre está bem nessa Presença, sim. Essa Presença é a base da Realidade. Quando você sai para o pensamento, sai dessa Presença. Vocês estão viciados em fazer isso e é por isso que o trabalho leva algum tempo.