O que, basicamente, fazemos dentro destes encontros? O que nós fazemos aqui? Qual é o nosso trabalho? Qual é o significado real de um encontro onde nós questionamos nossa própria história, a realidade da experiência pessoal? Qual é a verdade sobre a experiência particular, individual, pessoal, de cada um?
Para você, existem duas coisas: uma é a própria consciência do que se passa, do que acontece, daquilo que é experimentado; a outra coisa são os objetos dessa experiência. Em outras palavras: o pensamento nele mesmo e alguém dentro. Então, há essa consciência do pensamento e o próprio pensamento; o objeto e aquilo presente aqui, que testemunha esse objeto, que observa coisas; aquilo que é observado e aquele que observa. Portanto, para você, a experiência é formada por duas coisas: o “eu” e o “não-eu”. O computador que você tem diante de você, agora, é o “não-eu”, e esse que o está vendo e manuseando é o “eu” – há uma testemunha e a coisa testemunhada. A sua visão da experiência é essa. Ela se divide entre sujeito e objeto; entre o observador e a coisa observada; entre o pensamento e o pensador. É assim que você interpreta aquilo que acontece, agora, neste instante.
Isso que foi colocado até agora – não teoricamente, mas de forma prática – é o próprio sentido de separação, de dualidade. Aí está o sentido de um “eu” presente nessa experiência. Isso é o ego, é o “mim”, é a pessoa, é a ilusão da separatividade, é a ilusão da dualidade!
Você não precisa aprender nada sobre isso. Na verdade, se aprender algo sobre isso, de forma teórica, não fará nada com isso e poderá até piorar a situação. Isso é só pra você ouvir e, só nessa ação de ouvir, percebendo essa separação como uma ilusão, é possível parar de dar importância a isso. Esse é o trabalho a ser feito. Não é algo em que se acreditar. Isso não é uma lição, não é um ensinamento, não é um aprendizado. Advaita não se aprende, apesar de haver muitos professores de Advaita. Aprender isso não serve para nada. Você investiga isso, não aprende… Investiga até que isso encontre aí um espaço vivencial.
Portanto, essa ilusão de alguém que acredita em si mesmo como um ser separado, localizado no corpo, olhando para o mundo, para mundos separados e independentes dele mesmo, é a ilusão da dualidade, a ilusão do sentido de separação. A crença nessa entidade separada, vivendo num mundo separado dela mesma, é, basicamente, todo o problema, todo o conflito, todo o sofrimento. O Despertar, a Iluminação, ou a Realização de Deus, é o fim disso. Basicamente, esse é o trabalho a ser feito. Paradoxalmente, ele já está pronto… mas não está. Percebem isso?
É necessário uma completa entrega a esse trabalho. Você precisa deixar tudo por isso, tudo que cerca essa história de um “eu” presente dentro dela, de um “eu” vivendo essa história.
Por isso, estamos em Satsang. Não é para aprender isso, repetir isso… Não é mais um conhecimento que está sendo acrescentado a todo o antigo conhecimento que você tem. Absolutamente, nada disso! Isso aqui é uma Realização, um “assentar-se” nesse Estado, e Isso não pode ser uma teoria. Essa Consciência, essa Realização, essa Presença é o Despertar.
É necessário explorar, investigar e conhecer intimamente a nós mesmos, aquilo que somos, e isso é Meditação. Não se faz isso pelo intelecto, porque ele é sempre limitado; é só uma parte dessa história. Meditação é estar além dos objetos, além do sujeito, além da dualidade. Esse é o reconhecimento Daquilo que somos, neste momento, neste instante.
Repare que, neste momento, neste instante, a única Realidade é essa não-dualidade, essa não-separação. Há um Silêncio presente neste instante, que é Consciência; essa sempre Consciência presente. Ela é a única Realidade. Não há separação entre o sujeito e o objeto, entre o pensamento e o pensador, entre a história e aquele de quem ela é contada. Sua Natureza Real, sua Natureza Verdadeira, Aquilo que Você É, não conhece dualidade e, portanto, não conhece conflito, medo, desejo, história; não conhece o passado, o presente, nem o futuro. O pensamento que produz essa separação.
Toda a sua história é pura imaginação, uma produção do pensamento, a ilusão de alguém como o pensador, como o observador.
Participante: É difícil compreender isso!
Mestre: Eu diria que é difícil pensar sobre isso. Compreender, não!