Você fica o dia inteiro absorvido em sentimentos, sensações, emoções, relativos a um mundo onde tem a segunda e a terceira pessoa, relativos a uma vida aí fora. Mas fora onde? Onde é fora e onde é dentro? Onde é que surge essa noção de dentro e fora? Você passa o dia inteiro absorvido na história de “alguém” com problemas com o namorado, com a namorada, com o marido, com o filho, preocupado com o que pensam a seu respeito e com o que você sente em relação ao outro.
É sempre a história da “pessoa” envolvida com a preocupação com o outro: “Como ele está?”; “Como ele se sente?”; “O que ele pensa quando eu me atraso em um compromisso ou não correspondo ao desejo dele?”; “O que estão pensando sobre mim?”; “O que estão sentindo sobre o que eu penso?”… O joguinho de ciúmes, essa preocupação de “não estarem mentindo para mim”, de não ser traído, é sempre uma história pessoal. Você passa o dia inteiro absorvido na história de uma “pessoa”, nessa história de “alguém”.
Será que eu estou aqui para ajudar você a ser uma pessoa melhor? Um pai melhor, uma mãe melhor, um filho melhor? Ajudar você a ser um iluminado? A autopreocupação com todos os aspectos da sua vida (emocional, financeiro, relacional), com a história de uma “pessoa” aí, é real?
Então, você chega a Satsang e crê que esse é só mais um trabalho, e que, aqui, tem mais uma pessoa que sabe alguma coisa que você não sabe; que tem alguma técnica que você não tem; que sabe aplicar uma metodologia ou uma prática; que pode dar algum recurso para você acessar algum estado; que pode dar a você uma nova experiência, para acrescentar a esse seu currículo de vida, nesse caminho da evolução espiritual. Será isso?
O lado mais patético disso tudo é que, quando você vem aqui, não vem para realizar a Felicidade. Você vem para descobrir como se sentir bem em momentos difíceis da vida, como lidar com dificuldades na vida e ultrapassá-las com a técnica, o poder e a habilidade que outros não têm, sorrindo, feliz. No fundo, você não vem aqui para a Liberação; você não sabe o que é Liberação. Você não vem aqui para a Felicidade; você não sabe o que é a Felicidade.
Você vem aqui para ver o que pode adquirir e levar com você: “Peguei. Vou levar isso comigo”; “Aprendi isso e vou levar comigo, pois vai me ajudar a ter sucesso, a conseguir mais popularidade, reconhecimento, amor, além de mais poder para lidar com meu marido, ou conseguir um marido mais bonito que esse”… Você vem para conseguir, obter, algo, a fim de ter mais alguma coisa somada a isso que você é; alguma coisa que ainda não tem.
Não é assim que você sente? A ideia é a de que você só precisa melhorar, e melhorar significa pegar essa pessoa que está aí e transformá-la em alguém melhor, mais forte, mais seguro, com mais habilidade de comunicação e de poder de expressão, de cativar outros, de conseguir mais, mais, e mais… Para você, o que falta é só melhorar o que você é, afinal você já está bem, tem bom coração, é uma pessoa que não pensa mal de ninguém, não é um assassino, não é um ladrão… Você acredita que já é uma boa pessoa e só falta alguma coisa nova aí! Esse é o lado mais patético destes encontros. No fundo, você não tem a mínima noção do que está fazendo aqui, do que é essa proposta.
Você não pode me dar nada, a não ser miséria, problema. Você não pode me dar nada, a não ser o seu sofrimento – o sofrimento dessa suposta entidade que você acredita ser, mas que eu sei que você não é. Eu não consinto com a ilusão dessa “pessoa” que você acredita ser, mas sim com o que Você é. No que Você é, eu amo você, porque Eu Sou Isso, Eu Sou Você. Vocês precisam ter uma entrega, que é só de cada um. Você tem que se superar, o que significa superar essa condição de limitação que você acredita ter sendo essa “pessoa” que você acredita ser. Qual é a sua limitação, nessa “pessoa” que você acredita ser?
Quando não quer depender, na verdade, você é dependente de um medo muito grande. Você não está em paz, seguro, porque não há segurança na mente. Curiosamente, a vida é essa insegurança. A mente se expressa nessa insegurança, criando uma suposta segurança, e aí ela cria o medo. Na verdade, o seu medo é o medo de você mesmo, não é de alguém lhe dando dependência, tornando-o dependente. Você tem medo de Ser.
O único ser na Terra que jamais faria de você um ser dependente é um Buda. Um Buda jamais faria de você um ser dependente, porque o Amor é a Liberdade, e Ele é esse Amor. Na realidade, é o único Amor que representa essa Liberdade que o seu coração almeja, que é a sua Natureza Verdadeira. Eu lhe dou Amor, mas não dependo disso. Então, você diz: “Esse amor eu não conheço”. Eu sou Amor, é a minha Natureza, mas eu não preciso de você, eu não quero nada, e isso é que bate muito no ego. O ego não suporta isso, porque ele não conhece essa via de mão única, não conhece essa linguagem; ele conhece uma troca. No ego, essa coisa de amor é uma troca de posições iguais, de ideias.
O Despertar é uma questão de desabrochar; é uma “Coisa” que desabrocha em você, tomando-o de forma tal que você não tem ciência do que está acontecendo. É tão real o trabalho de Deus em você, que você não tem como medir isso. O Guru tem como observar isso, mas você não. O Guru tem como testar isso, mas você não tem. Pelo fato de você estar em um trabalho direto com um Buda, em um trabalho real, não tem como você conhecer as suas medidas, mas tem como você ser observado e estar sob uma tutela. Quem mais faria isso, a não ser Deus, a Consciência, o Ser, de uma forma tão cirúrgica, tão precisa? Somente um Mestre vivo faria isso.