Esse momento é onde a Realidade se faz presente, onde aquele que reconhece e aquilo que é reconhecido aparecem como a mesma coisa. Em outras palavras, a percepção dessa fala e aquele que percebe não são duas coisas separadas. A percepção não está dividida em uma parte que percebe e outra que é percebida. Não há nunca dois objetos ou duas situações. Então, Satsang significa essa constatação inteira, completa, de que não há duas coisas.
O que quer que esteja acontecendo ou sendo vivenciado neste momento, é ainda a mesma Realidade. Isso exclui a presença de alguém com escolhas, com determinações, com o “gostar” ou o “não gostar”. Em outras palavras, essa pessoa que você acredita existir não está presente nesta experiência, seja a experiência do mundo, da mente ou do corpo; seja a experiência da ação ou do pensamento.
O pensamento e a ação acontecem como uma ação da Consciência. Assim é o corpo com os sentidos, são as aparições sensoriais ou toda e qualquer experiência. Não é alguém que pensa e depois pratica a ação; não é o pensamento antecedendo a ação. Tudo é somente uma ação, que é a ação da Consciência.
O pensamento diz que antes da ação, ele a determina; que tem o poder de determinar a ação. Mas o pensamento é só uma ficção, que, por sua vez, é só uma ação, também, da Consciência, e não de alguém.
Participante: Isso foi uma bomba! Ainda achava que havia pensamento precedendo a ação.
Mestre Gualberto: O pensamento imagina assim: tem o pensador antes do pensamento. Ele diz que tem sempre algo antes e algo depois. Percebem? Isso é bem interessante, porque, quando se acredita que tem alguém responsável por pensar, acredita-se que tem alguém responsável para escolher e para fazer.
Perceber, conhecer, experimentar… Isso é Consciência! O perceber não está separado do que é percebido, o conhecer não está separado do conhecimento e o experimentar não é algo separado da experiência. Aceitar isso como real é libertador! Essa Consciência é o que nós somos e Isso é o experimentar, o conhecer, o perceber, a ação.
Nessas falas, usamos muito as palavras – falar significa fazer uso de palavras – mas elas só estão indicando uma única coisa: esta Presença, esta Consciência, Isso que, agora há pouco, chamei de Realidade. É importante que você se lembre disso. Tenha paciência para não se confundir como “alguém” na experiência, seja ela boa ou ruim, que a vida esteja apresentando nesse momento. Este é o segredo de não se identificar, se confundir, se embolar, se misturar com a ilusão da separatividade, da dualidade, do ego.
Você é esta Realidade! Você permanece como esta Realidade! É preciso que você se volte, momento a momento, para esta desidentificação; que permaneça desidentificado dos pensamentos, dessa ilusão de “alguém” pensando. Então, neste instante, essa testemunha não se confunde com o objeto, que pode ser uma sensação, um pensamento, uma emoção, uma limitação física, uma dor, um mal-estar, ou o que quer que esteja aparecendo. Você pode enfrentar a última respiração, mas isso passa a ser um problema do corpo, porque há um espaço aí que não é o corpo, que não é o pensamento sobre o que está acontecendo com o corpo. Você permanece desidentificado! É uma questão de confiar nisso que estou lhe dizendo e fazer essa localização aí, em si mesmo, que é essa Consciência. Essa Consciência não está no corpo, é o corpo que está Nela; não está na mente, pois é a mente que está Nela; não está no mundo, pois é o mundo que está Nela. Então, dá para se confrontar com qualquer experiência, por mais dolorosa que ela seja.
Participante: Mas isso implica deixar de sentir a dor?
Mestre Gualberto: Não! Isso não implica deixar de sentir a dor. A dor, ainda, é parte dessa experiência, assim como o prazer seria parte dessa experiência – uma hora é prazer, em outra hora é dor. Você não coloca o pensamento na experiência da dor ou do prazer, dizendo algo sobre a dor ou sobre o prazer. Você olha a dor, o prazer, o pensamento de uma forma desidentificada. Então, nesse exato momento, você está livre! Olhando de fora, a experiência é feia ou bonita, mas isso não o afeta. É feia ou bonita para uma percepção equivocada, para “alguém” que está vendo, enquanto que Você mesmo não está mais ali.
O pensamento sempre estará enganado quanto ao que acontece, ele sempre falsificará a experiência. O pensamento é uma ficção – uma ação da Consciência que é uma ficção. Não confie no pensamento sobre o que está acontecendo, nunca! O pensamento nunca diz nada real sobre nada, sobre absolutamente coisa alguma. A questão é que você confia muito no pensamento, como se ele estivesse determinando, sabendo, sendo e confirmando alguma coisa. O pensamento é somente uma imagem, algo imaginário sobre aquilo que está se mostrando, se apresentando.
A Consciência interpenetra, intimamente, toda e qualquer experiência, como sendo a própria experiência, não afetada por acontecimentos, nomes ou formas, assim como a tela não é afetada pelas imagens, com suas múltiplas formas e nomes. Isso nós podemos chamar de Felicidade! Reparem que Felicidade não é prazer. Felicidade é essa Liberdade que nunca é afetada pelo que acontece ou que parece acontecer, como ocorre com a tela onde as imagens aparecem.
Sobre tudo, acima de tudo, além de tudo, dentro de tudo, em tudo, está essa Consciência! Isso é Felicidade, é Paz, é o nosso Ser!