Não há nada lá fora que já não esteja aí dentro. A Iluminação ou Despertar é saber aquilo que, de fato, você é. Toda confusão, toda luta e guerra, toda dificuldade, todo conflito e sofrimento, não estão lá fora; estão aí dentro. Mas isso não é a verdade sobre você, sobre o mundo; não é a verdade dentro, nem fora. O lado paradoxal é esse: não há nada lá fora que já não esteja aí dentro.
A investigação disso, em Satsang, é uma aproximação para o trabalho do Despertar. Qual é a natureza verdadeira daquilo que acontece? Qual é a real natureza do que se apresenta nesse instante? Qual é a natureza real disso, desse momento? Qual é a natureza verdadeira dessa experiência? A Natureza Verdadeira disso que se apresenta, da experiência, desse instante, do que acontece, é a natureza verdadeira do poder dessas aparições, dessas expressões, dessas manifestações; é o poder verdadeiro desses eventos, acontecimentos.
E qual é a Natureza Verdadeira disso? Ela não é interna nem externa, pois ela está além disso. É a Natureza Verdadeira do Ser, é a sua Natureza Verdadeira. Você está há muito tempo olhando para fora, a partir da ilusão que faz sobre si mesmo, aí dentro – que é o que parece estar acontecendo do lado de fora. Essa mesma ilusão, que você tem sobre si, você tem sobre o mundo, porque o que está fora é o que está dentro, mas isso é uma ilusão.
Um dia, um Mestre deu um presente, bem embrulhado, ao discípulo, que ficou muito feliz por ter ganhado do Mestre um prasad e, ao desembrulhá-lo, descobriu que era um espelho. Ele perguntou: “Mestre, qual o significado desse espelho?”. O mestre disse: “Esse é um espelho mágico, que revela o mundo; é o espelho da sabedoria. Tudo o que você colocar diante desse espelho, ao olhar o reflexo, será revelado a você o interior daquilo”. Ele perguntou ao Mestre: “Então, esse espelho pode me revelar o oculto, o secreto, o segredo das pessoas?”. O Mestre respondeu: “Sim. Esse espelho tem o poder de revelar o que está dentro; vai revelar-lhe os sentimentos, as emoções, os segredos, o oculto, o secreto das pessoas, de tudo”.
O discípulo viu que estava diante de uma preciosidade e a primeira coisa que fez foi colocar o espelho diante das pessoas mais próximas, as que tinham mais contato com ele. Mostrou-o para a namorada e, quando ela se olhou no espelho, ele viu refletido o que de fato se passava dentro dela, o que o deixou surpreso e chateado, porque ele descobriu que não havia amor, mas sim medo, ciúmes, desejo de controle, inveja, mágoas, ressentimentos… Naquele momento, começou a se revelar tudo! A cada segundo, uma nova imagem, cada uma mais feia que a outra, tão feias que ele desviou o espelho da moça. Depois, mesmo assustado, passou a colocar o espelho diante de outras pessoas mais próximas dele. Colocou-o diante do pai, da mãe… e cada vez era uma decepção, porque, em todos, só mudava a ordem de como apareciam aquelas imagens.
Então, ele disse para si mesmo que, quando acabasse de mostrar o espelho às pessoas próximas, começaria a descobrir o mundo, mas não sabia se aguentaria fazer isso, porque, quanto mais ele mostrava o espelho para as pessoas, mais se revelava esse lado nelas. Assim, ele saiu pelo mundo à sua volta, cada vez mais curioso a respeito do que o mundo podia lhe revelar, mas, diante do que foi revelado, parou e viu que aquilo estava fazendo um mal muito grande para ele. As imagens de raiva, intolerância, inveja, medo, ódio, passavam na mente dele. Assim, tapando o espelho, ele disse para si: “Não quero mais saber disso. Eu já vi que não vou encontrar coisa boa nesse mundo. As pessoas são muito feias, carregam tudo isso dentro delas, e eu não sabia que elas eram assim. Acredito que, nesse mundo, somente o Mestre mesmo, o meu Guruji, salva-se dessa situação. Todos são tão feios!”.
Com aquelas imagens vindo à sua mente, ele voltou ao Guru e disse: “Mestre, eu não quero mais saber desse espelho, pois já vi que só vai me fazer mal. Ele está me revelando o mundo como eu não conhecia. Não sabia que o mundo era tão feio, que as pessoas eram tão feias! Só o senhor, Mestre… Só o senhor”. O Mestre perguntou-lhe: “Como assim?” O discípulo respondeu: “Mestre, o espelho revela o íntimo das pessoas, o que elas trazem dentro. O senhor não entende?” O Mestre disse-lhe: “Não. Eu não estou compreendendo. Onde está o espelho?” Então, ele tirou o espelho, desembrulhou-o e, naquele momento, o Mestre olhou para o espelho. Quando olhou para o reflexo do Mestre naquele espelho mágico que revela a Sabedoria, a Verdade, o discípulo viu, muito claramente, que lá estavam o ódio, o medo, o desejo, a solidão, o ressentimento, a inveja, o ciúme, e, colocando a mão na cabeça, disse: “Uau! Tem algo errado com esse espelho! Não é possível!” Começou a chorar e o Mestre perguntou-lhe: “O que foi? O que você está vendo”? Ele respondeu: “Mestre, eu não sei, não consigo falar… Tem algo errado com esse espelho… tem algo errado com esse espelho”.
O Mestre olhou para ele, sorriu e disse: “Não tem nada errado com esse espelho; não tem nada errado em mim; não tem nada errado nas pessoas que você colocou diante desse espelho. Pare de chorar, porque não tem nada errado, também, em você. Isso tudo é porque você passou muito tempo, uma vida inteira, olhando para fora, procurando encontrar a Sabedoria, a Verdade, a Felicidade, o Amor, a Liberdade, a Paz, nas pessoas, no mundo externo, no mundo do lado de fora, mas não há nada errado lá fora. Essa atitude aí é que precisa mudar. Não há nada lá fora, meu filho, que não esteja aí dentro. Quando essa ilusão, essa visão equivocada, distorcida, errônea, desaparece, termina, não há nada aí dentro e não há nada lá fora”.