Para quem esses pensamentos acontecem? Para quem esses pensamentos surgem? Para quem eles vêm? Quando os pensamentos aparecem a você, minha dica, em Satsang, é que você pergunte a si mesmo exatamente isso: “Para quem esses pensamentos acontecem?”
O propósito desses encontros é seguir e encontrar essa fonte, a origem, a base dos pensamentos. Encontre a fonte dos seus pensamentos! Você a encontrará neste “eu”. A fonte desses pensamentos é este “eu”. Então, você pergunta: “O que é este ‘eu’?”, “Quem sou eu?” ou “Qual é a fonte do ‘eu’?”. O propósito de Satsang é essa investigação. Nessa investigação, você chega a este “eu”, que é a base desses pensamentos. Mas, onde esse “eu” aparece? Esse pronome “eu” é a primeira palavra, é o primeiro pensamento. Depois deste pronome “eu”, surgem os outros pensamentos: “eu e minha casa”, “eu e minha família”, “eu e meu corpo”, “eu e a minha história”, “eu e o meu nome”, “eu e o meu mundo”… Qualquer outro pensamento, sentimento ou emoção está sempre atrelado, ligado a este “eu”. Tudo está ligado a este “eu”: “eu me sinto alegre”, “eu me sinto triste”, “eu me sinto doente”, “eu me sinto preocupado”, “eu me sinto pobre”, “eu me sinto rico”… Tudo está atado, preso, a essa ideia de “alguém” aí, a esse “eu”. A primeira ideia é este pronome “eu”.
Então, você pode trabalhar isso. Se você busca esse “eu”, você descobre que não existe nenhum “eu”. Tudo está preso, atrelado, atado, a esse “eu”, mas nesse Eu você não encontra nenhum “eu”, isso é só mais um pensamento também. Assim, acontece essa coisa espantosa: o descobrimento de que não existe nenhum “eu”. Você descobrirá que isso é apenas um pensamento e que todos os outros pensamentos estão ligados a esta “ideia-sensação”, “ideia-sentimento”, a essa suposta entidade presente. Não existe uma entidade presente aí. Nunca houve um “eu”!
Você constatará, claramente, que não existe e que nunca existiu esse “eu”. A ilusão está em cima do sentido de separação, assentada nessa ideia principal de que o experimentador está aí, o “eu” está aí, a “pessoa” está aí. Mas não tem “pessoa”, só tem o fenômeno, que é a vida como ela é, com tudo que aparece nela. Isso significa que não teve alguém que nasceu, não tem alguém para morrer, não tem alguém vivendo. Você nunca nasceu! Se nunca nasceu, não poderá morrer. Você nunca morrerá!
É claro que essa fala é bastante estranha, a princípio. Não existem “outros”. Se é assim, que experiência é esta? É só a vida; é só o que acontece. É sempre do ponto de referência de um “eu” que existem os “outros”. Tudo é esse Ser, é essa Consciência, é essa Presença, é essa Vida, sem nenhuma separação. Os seus problemas todos são pessoais. Só pode haver problemas para a “pessoa”. Sem a “pessoa”, as coisas são como são. Sem a referência da “pessoa”, não pode haver problemas, não pode haver dificuldades. É só a vida como ela se expressa, de uma forma positiva ou negativa, boa ou má, e isto está sempre dentro da interpretação pessoal. Existe somente o Ser. Tudo isso é esse Ser.
O corpo aparece sentindo, falando, agindo, nascendo e morrendo, mas o corpo é só uma aparição existencial, não tem alguém especial nisso. Você, em sua Natureza Real, não está no corpo; o corpo está em você, a mente está em você, as experiências sensoriais estão em você. Tudo isso aparece Naquilo que Você É, mas pode aparecer ou não. Como Consciência, você não está preso a essas sensações, sentimentos, emoções, experiências… a esta experiência “corpo-mente-mundo”.
Você é essa Pura Consciência, essa Pura Inteligência, essa Verdade não tocada pelo experimentador, pela experiência, pelo observador e pela coisa observada. Você não é o que parece ser. Você não é quem parece ser!
Por muito tempo, você tem se identificado com o corpo, com as experiências do corpo, nessa ideia de que tem alguém dentro dessa experiência. Então, a princípio, quando você se depara com essa fala, que começa a questionar e a virar toda essa coisa de ponta-cabeça, isso soa estranho. Você precisa agora aprender a ver as experiências a partir desse novo olhar, desse novo modo, aproximando-se de cada evento, de cada incidente, de cada acontecimento, de cada coisa em sua vida, questionando o experimentador dentro disso; esse “eu”, que é só um pensamento nessa experiência. Quando você começa a fazer isso, você tem a possibilidade de ir além desse condicionamento, dessa programação, desse modo repetitivo de pensar, sentir e agir. Então, você pode ir além dessa identificação egoica. É quando você pode descobrir sua Natureza Verdadeira, Aquilo que está fora disso tudo, que não é tocado por nada disso, e que, ao mesmo tempo, é onde isso tudo aparece, acontece, ou parece acontecer.
O seu corpo continuará fazendo coisas, experimentando sensações, emoções, ou seja, você parecerá ser uma pessoa também, mas você perceberá, você saberá, estará desidentificado disso, estará além dessa forma comum, grosseira, de lidar com o mundo e o com que acontece nele.
Nesses encontros, eu tenho procurado trazer este desafio. É importante que você comece a assumir essa Verdade. Você não pode simplesmente se justificar dizendo: “Eu não estou acordado”. Já está acordado sim! Já pode, perfeitamente, se desidentificar dessa ideia do experimentador; já deve começar a treinar isso. Essa é a sua sadhana, esse é o seu trabalho. Se você continuar pelos mesmos velhos caminhos, nas mesmas velhas identificações, crenças, sensações e sentimentos, o velho condicionamento se manterá.
É preciso permitir a si esse real “sentimento”: o “sentimento” da Liberdade, o “sentimento” da Consciência, e não perdê-lo; não sucumbir de novo ao movimento da mente. Está claro isso? Isso eu poderia chamar de Meditação – tomar consciência de si mesmo, momento a momento. Então, você não perderá essa Consciência; não se deixará perder nessa inconsciência! No entanto, se você se perde, você volta de novo, e de novo, e de novo, e de novo… Mas não tem problema, você está trabalhando isso.