Afinal, qual é a base da ação? Por que você faz o que faz? Por que é aquilo e não outra coisa? O que é essa ação? Em que nível a ação está acontecendo? A noção geral é: se ela não acontece, é porque você não fez acontecer. Por que ela produz esse sentimento de culpa? Onde está a ação correta? O que é a ação e quando ela é correta? Ela é correta quando o satisfaz? Quando ela, perfeitamente, se ajusta às suas expectativas? Ela é correta quando ela nasce da escolha? Em geral, você só sabe agir baseado numa escolha, e a sua escolha sempre nasce da confusão. Você jamais percebe, com clareza, que todas as suas escolhas nascem da confusão. É disso que queremos tratar com você.
Qual a base da ação correta? Todos estão agindo o tempo todo. Cometem ações das quais se arrependem, sentem culpa, remorso, sentem-se frustrados, decepcionados, e, depois, tentam consertar o mal feito, essa má ação, mas ela já foi tomada, ela já aconteceu. Então, eu quero abordar um pouco disso com você, aqui.
A ação pode ser tomada nessa antiga base – que é a base da escolha, da confusão – ou pode ser a pura e simples ação, a ação real, a ação correta.
A diferença é que essa ação comum, à qual todos estão habituados, na qual todos se assumem nesse “fazer”, é a ação da confusão. Que ação é essa? É a ação que nasce do desejo ou do medo. A ação da confusão é a ação que nasce de uma suposta entidade presente nas suas escolhas. Se eu perguntar a você: “Por que você faz o que faz?” Você vai responder: “Porque eu quero, porque eu gosto, porque eu sinto!” Essa é ação nascida da confusão e não pode ser uma ação correta. Aqui eu coloco a expressão “correta” num sentido muito mais amplo do que você considera como correto. Correto, para você, é uma ação onde tudo ocorre perfeitamente bem para você. O correto para mim é algo muito mais extenso, que abrange a totalidade da vida, em seu misterioso movimento, no qual não fica “alguém” aí, nem para se vangloriar, nem para se menosprezar; nem para se sentir preenchido, nem para se sentir diminuído; nem para se sentir bem consigo e nem para se sentir mal consigo. É a ação pura! Essa pura ação não é pessoal, e quando eu digo “não é pessoal”, é porque não existe o sentido de “alguém” presente nisso.
Esse assunto é muito valioso, porque, em pequenos detalhes da sua vida, você está tomando ações que podem nascer dessa confusão ou podem ser ações “sem você”. “Sem você” significa sem confusão; “a partir de você” significa confusão. É claro que você não pode confiar na “confusão” para se chegar a clareza, a Verdade, a Liberdade.
Quando eu era criança, eu me juntava com outras crianças num terreno baldio para colher mangas. Havia cerca de oito pés de manga neste terreno e apenas uma mangueira específica com mangas espadas enormes. Era a mangueira mais bonita deste terreno, com as frutas mais bonitas entre todas as outras mangueiras. Aquela mangueira continuava lá, cheia de folhas e frutos lindíssimos, mas nós íamos para os outros pés. Aquela ficava desprezada, porque suas mangas eram muito, mas muito azedas. Não eram azedas, eram muito azedas! O fruto reflete a raiz da árvore, tudo que ela representa, toda vida passando por ali, toda seiva vital. Então, se a raiz é de uma árvore que produz frutos azedos, você não vai tirar frutos doces.
A ação, quando nasce do pensamento, do sentimento, da emoção, da sensação, nasce da escolha, e toda escolha só acontece na confusão. Assim como essa árvore jamais conseguiu produzir um fruto doce, porque ela já nasceu e cresceu nessa estrutura azeda de ser, as ações que nascem da confusão, do pensamento, do sentimento, da sensação, da emoção, com esse sentido de um “eu” presente na experiência do viver não produzem Verdade, Liberdade, Clareza, Sabedoria. Sempre serão incorretas. Sempre produzirão frutos azedos de uma existência infeliz, conflituosa, miserável.
Você nasceu para a Sabedoria, mas não há Sabedoria quando não há Liberdade, quando não há Verdade, quando não há Amor, quando não há Inteligência, porque Amor, Inteligência, Liberdade, Verdade são Sabedoria, e a Sabedoria é como uma árvore que produz frutos muito específicos, bastante singulares. Estamos falando da ação correta, livre do sentido de um “eu” presente, com escolhas nascidas dessa confusão, dessa mediocridade, dessa estupidez, dessa reatividade, desse movimento conhecido que é o movimento da “pessoa”.
Você está aqui para descobrir que não está aí! Você está aqui para realizar que não é uma pessoa, para aprender o significado vivencial disso! Mas, enquanto você estiver se confundido com o conhecido movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, da sensação de uma suposta entidade, que é essa pessoa que você acredita ser, não espere Felicidade, Amor, Paz e Liberdade, porque não há Inteligência, não há Clareza, só há confusão e, nesse estado confuso de ser, não há Ser. Nesse estado confuso de ser o que impera é a mentira, a ilusão, a ignorância sobre si mesmo. Tudo que você está fazendo, aprendendo ou ensinando, sem exceção, nasce desse conhecido movimento psicológico do “eu”, o movimento da ilusão, da ignorância.
Eu receio, sem nenhum receio, dizer para você que tudo que você aprendeu, está aprendendo ou está teorizando, ensinando para outros, se nasce desse movimento psicológico, desse sentido do “eu” presente, nesse ver, ouvir, falar, sentir (seja um sentimento bárbaro como o desejo de matar ou um sentimento sublime como o desejo de amar, de se render, de se entregar ao outro, ao mundo, à vida…), está ainda dentro dessa confusão. Assim, suas ações serão confusas, não verdadeiras.
Em outras palavras: a sua busca por Felicidade, Paz, Amor, Liberdade, não é real. Você não vai encontrar isso assistindo palestras, ouvindo outros ensinadores, aprendendo e, o pior, tentando ensinar, tentando compartilhar o que não tem. Quando você procura compartilhar o que não tem, você está num estado pior do que aquele que tem consciência de que não tem. Quando você tem consciência de que não tem, você está pronto para receber; a sua condição está melhor do que aquele que procura compartilhar o que não tem, na presunção e arrogância de que tem. Esse fechou as portas para si mesmo. Então, não importa onde você está procurando essa Felicidade, esse Amor, essa Liberdade, essa Paz, se o seu movimento é condicionado, mecânico, apenas um processo repetitivo de continuidade; se você é só uma continuação de todo um programa formado, em que todos são unânimes em viver nele. Se você continuar dentro desse jogo, essa confusão produzirá ações confusas.
Você está aqui para compreender Aquilo que É. Você não está aqui para ser o melhor, para fazer a diferença. Você foi educado assim: “Vá, consiga, realize, faça! Faça a diferença!” Você não está aqui para isso! Você está aqui para descobrir que não está aqui para fazer diferença alguma.
Quando você chegou nesse cenário, você encontrou a humanidade completamente perturbada, confusa, desorientada. Encarregar-se de um dever só porque ouviu de uma sociedade, ou de uma cultura, que há solução para isso, e que é você que tem que fazer a diferença, demonstra profunda estupidez, uma grande arrogância, porque você não está aqui para mudar o esquema.
Você não está aqui para mudar o jogo, mas para ver que é um jogo, só um jogo. Você está aqui para descobrir que não está aqui, que só tem o jogo. Quando isso fica claro, a confusão desaparece, e aí a ação – que eu chamei de correta e agora vou mudar e chamar de ação natural, porque correta tem um oposto – vai poder tomar o lugar dela. E nessa ação natural não tem você, só tem Aquilo, a “coisa” que não tem nome… O dono do jogo! Só tem o dono do jogo, e para ele qualquer regra serve, porque ele é o dono do jogo. Para ele só há clareza, porque não há escolha; só há clareza porque não há confusão.