Mais uma vez estamos nos voltando para esse momento de investigação, onde investigamos a natureza da ilusão, que nos parece algo bastante convincente.
Assim, é esse funcionamento, perfeitamente disfarçado, da mente egoica, que tem uma quantidade enorme de argumentos. A mente egoica tem como dizer, justificar e explicar qualquer coisa, pois ela possui alguns milhões de argumentos, todos eles bem lógicos, perfeitamente corretos. Esta mente está, aparentemente, velando, ocultando, mascarando essa Verdade… Vela e oculta a Verdade (a real condição daquilo que está presente, de toda experiência presente). A experiência presente, toda ela, é a experiência da Paz e da Felicidade, mas a mente tem como velar e ocultar isso. Tudo isso acontece de uma forma aparente, mas muito convincente nela, para ela.
Esse imaginário “eu”, esse imaginário “ser” (que a mente faz “parecer ser”), esse aparente “ser” que você acredita ser, com suas conclusões, convicções, teorias, crenças e pensamentos, está sempre buscando a Paz, a Felicidade, a Liberdade, o Amor, mas sempre do lado de fora – em objetos, no outro e no mundo. Com esse movimento, ele oculta, vela, a condição real dessa experiência neste exato momento, que é Liberdade, Paz e Felicidade. Esta é a real condição da experiência desse instante, mas a mente está cheia de conceitos, histórias, teorias, crenças, conclusões, certezas, e você se confunde com ela, surgindo daí a dor do sentido de separação.
A mente, em sua razão, está certa, mas você está equivocado, por estar na experiência da identificação com esse mecanismo, então, a mente está certa e você equivocado, e a maioria das pessoas vive assim. Essa é a atividade comum da mente, na qual você foi treinado a viver.
A questão é que não há saída, não há como sair desse labirinto. Eu já falei isso outras vezes… A mente é um labirinto no qual você se encontra, paradoxalmente, sem estar ali, porque você está ali quando a experiência desse momento é interpretada sob a ótica do pensamento. Quando tudo é ótica do pensamento, do sentimento, que é basicamente crença, conceito, teoria, opiniões, julgamentos e conclusões, você está dentro de um labirinto, que é o labirinto da mente. Ao acontecer isso, não há Amor, Paz, Liberdade e Felicidade, que ficam completamente ocultos nessa aparente miséria, que é a existência da mente egoica, separatista, pessoal. Então, nesse ponto, você está dentro desse labirinto.
O paradoxo aqui é que você não está nesse labirinto, porque você permanece, sempre, independente dessa condição, seja qual for a condição de sofrimento, dor e problema, no âmago, no interior. A Verdade do seu Ser permanece como a Verdade dessa experiência, e como Verdade dessa experiência, você permanece livre. Em seu Ser: Amor, Liberdade, Felicidade; em sua mente: conflito, sofrimento, miséria. Dessa forma, ou você se confunde, se perde, se identifica e se encontra dentro de um labirinto, por estar desatento, insciente desse movimento, ou você dá um salto para fora disso. Esse salto é a desidentificação com a história desse “alguém”.
Vocês estão muito viciados na história, levam tudo para o pessoal; tudo tem que ter o colorido, o toque da “pessoa” e nada pode acontecer por acontecer, no movimento da própria vida. É como se você fosse muito importante. Essa é sua crença: tudo tem que acontecer, acontece, aconteceu ou acontecerá em torno desse personagem, dessa suposta identidade presente nessa experiência. Desabituar-se; essa é a palavra! Parar de dar consideração, de considerar o outro nesse “si mesmo”; esse é o trabalho!
Quando você está aberto à sua Natureza Real, à sua Natureza Essencial, esse Vazio – que é a ausência desse “alguém” – é realizado em sua experiência, como a Realidade, a substância Real dessas aparições. Escute isso com atenção: a constatação da substância Real dessas aparições nesse momento, nesse Vazio, que é a ausência da autoimportância, ausência desse “alguém” nesse contexto de história, é uma questão de trabalho de se desabituar, de parar de valorizar a “pessoa”. Então, aparece essa experiência pura, que é a natureza da experiência desse momento. É nessa experiência pura que o Amor está presente.
O Amor é a ausência da ilusão do outro. Há a presença do outro na ilusão; o outro que faz a sua história ser uma “história pessoal”. Esse outro é o seu filho, o seu marido, a sua família, o seu patrão, o seu empregado, é a pessoa com quem a “pessoa”, aí, está lidando constantemente. Essa “pessoa” desaparece quando o outro desaparece. Quando o outro desaparece, não tem “você”. Quando não tem “você”, o Amor está presente, e o Amor não está em conflito, não conhece dualidade, preocupação, medo. Não há outros. Quando não há outros, o Amor está presente. Quando não há objetos, a Beleza está presente. Quando não há história, os problemas não estão e a Vida se apresenta como Ela é; o Amor como é; a Beleza como é; o evento, o acontecimento (favorável ou não) como é. Então, a Beleza é descobrir que não existem objetos; o Amor é descobrir que não existe “o outro”; e o fim dos problemas é descobrir que a Vida não é pessoal, não está sendo construída para a “pessoa” ser. Essa é a grande revelação de nossa Verdadeira Natureza e isso coloca um fim a essa “novela”. Quando terminam as novelas, eles colocam uma palavrinha no final: FIM; é o fim daqueles capítulos. Esse é o livro de “nossas vidas pessoais”, no qual nós acreditamos que somos pessoas importantes, separadas, que nascemos e nos movemos nesse mundo, que estamos mudando e controlando as coisas, crescendo, envelhecendo e caminhando para a morte.
Faz algum sentido ouvir isso?
Assumir ISSO como a verdade de sua Real Natureza é o fim dessa ilusão – a ilusão de um labirinto, de um espaço onde você, supostamente, entrou e de onde não consegue sair. Esse labirinto é o sentido de separatividade, o sentido do “eu”, esse sentido de “ser alguém”. O que estou dizendo é que quando essa real experiência (que é o sentido daquilo que se apresenta, nesse instante, sem nenhuma desfiguração, sem nenhum julgamento, sem nenhuma ideia e sobreposição sobre isso) não é ignorada, ou seja, quando você não ignora a sua Real Natureza, essa Presença, Consciência, é a Verdade, a Liberdade, a Felicidade, o Amor.
O meu convite para você, em Satsang, é Ser, que é esse Vazio – o Vazio que é a Totalidade. Todos desejam ser alguma coisa. Ser “alguém” é ser alguma coisa, porém, Ser é Ser, apenas Ser… Não é tudo, nem nada… É apenas Ser. Ser não conhece história, assim, não conhece problemas. Ser não é ser “alguém”, assim, não conhece o outro, e isso é o fim da “novela”, o capítulo final. Mas ninguém quer morrer, todos querem continuar com a história, continuar a ser “alguém”.
É preciso deixar essa autoimportância. Quando isso acontece nessa Liberdade, Felicidade, nesse Amor, aquilo que fica, como mente ou corpo ou mundo, tem uma outra qualidade, toma uma outra qualidade – a qualidade da própria Consciência, da própria Presença. Isto porque essa mente, o corpo e o mundo também não estão separados dessa Consciência, dessa Presença. Tudo fica pleno, preenchido ou saturado desta Presença, que é Paz e Felicidade. Essa é a nossa Real Natureza, mas não tem história “pessoal”; não tem “alguém pessoal” Nisso.
Participante: Como lidar com isso e todas as obrigações do mundo?
Mestre Gualberto: Não é possível lidar com isso e todas as obrigações do mundo. Vou repetir: não é possível lidar com isso e com todas as obrigações do mundo. Essas obrigações são de quem criou o mundo; lidar com isso é a sua única obrigação. Você lida com isso e Aquele que criou o mundo cuida das obrigações Dele. Somente a ilusão de que você está aí, tendo que lidar com isso e com as obrigações do mundo, cria o conflito. O resultado disso é que você não lida com isso, nem cuida, de fato, das obrigações do mundo, porque estas não são suas obrigações. Então, não é possível você cuidar disso e lidar com isso. Você está tão identificado como “alguém”, sendo o autor das ações, fazendo disso uma crença e querendo lidar com assuntos que não são os seus assuntos, mas sim os assuntos de Deus, que você não faz uma coisa nem outra.
A única coisa para você, é ir além dessa ilusão – a ilusão de ser o autor, de estar no controle. Assim, você deixa o corpo cuidando das ações que ele tem que cuidar, o pensamento responsável por aquilo que ele tem que dar conta. Você mesmo cai fora disso, permanece em seu Ser, em sua Natureza Real. O sentido de “ser autor” das ações coloca um peso muito grande sobre os seus ombros; você está andando encurvado sob esse peso.
Participante: Sinto que estou invisível. Isso é magnífico! Não tem ninguém aqui.
Mestre Gualberto: Não tem ninguém em lugar nenhum. Quando o pensamento aparece com uma história, trazendo nomes e formas, pessoas, coisas e lugares, é que esse “alguém” aparece, surge. Esse momento contém todas as aparições, exceto uma: essa aparição da “pessoa”. Tudo é real, a “pessoa” não. Tudo é real como uma aparição, nesse momento, mas a “pessoa” não. Portanto, quando eu o convido a lidar com isso, estou convidando você a permanecer em seu Ser, onde tudo está presente e “você” não está. Em seu Ser, as obrigações do mundo são cuidadas por Aquele que expressa e manifesta o mundo, e isso não tem nada a ver com essa ideia de “alguém” fazendo alguma coisa, ou tendo que fazer alguma coisa, ou sendo responsável por alguma obrigação. A sua Natureza Real é Consciência, Felicidade, Ser. Na Índia eles chamam isso de Sat-Chit-Ananda. A sua Natureza Real é Sat-Chit-Ananda.
Você se abre, e esse abrir-se é não se identificar, não se perder, não se confundir com o que se passa aí, em sua cabeça, com esses pensamentos e sentimentos, com essas conclusões, crenças e ideias. Quando o seu Ser é ignorado, a sua Natureza Real é ignorada, as limitadas qualidades da mente egoica (essa mente separatista que cria a ilusão da “pessoa” presente) aparecem, e esse imaginário “eu” volta à sua antiga busca de paz, felicidade, amor, do lado de fora. Quanto maior é o seu esforço, o seu trabalho, quanto mais ele caminha em direção à sua ambição de “ser”, você deixa de Ser. Na ambição de ser, a mente assume que você, aparentemente, deixa de ser, porque se confunde com isso.
Participante: Se os outros não existem, eu não existo; se eu não existo, os outros não existem… É isso?
Mestre Gualberto: É uma conclusão intelectual. Quando ISSO está presente é assim, mas não há nenhuma conclusão a respeito; nenhuma pergunta e nenhuma resposta.