As pessoas vêm a mim e acreditam que eu posso ajudá-las. Isso não é verdade! Eu não posso ajudá-las, porque elas estão confusas, e o que elas chamam de ajuda é alguém que coopere na confusão delas com suas escolhas. Então, não posso ajudá-las! Quando elas vêm a mim como pessoas, eu digo: “Não tem alguém aí!” Elas me falam de suas ações nascidas da confusão, que deram a elas uma alternativa de escolha, e relatam que estas escolhas não estão dando certo, que algo está dando errado. Quando elas vêm a mim, relatam os problemas delas, e eu olho para elas e digo: “Não tem você aí! A crença de estar aí está produzindo a confusão, que, logo depois, produz uma escolha!” Mas elas não ficam satisfeitas. Elas voltam para o caminho comum delas, onde elas podem ser ensinadas sobre o que fazer ou não, por um coaching, um terapeuta ou um facilitador desses inúmeros trabalhos que existem por aí. Mas, tudo, exatamente tudo, continuará na mesma, porque enquanto houver o sentido de “alguém” presente, aprendendo ou ensinando, dando ou recebendo, tudo continuará na mesma. Por isso, não adianta vir a mim! O que eu tenho para lhe dizer é: Caia fora! Não aja! Fique quieto! Não faça absolutamente nada! Quem, afinal, faria? Por que faria?
O meu enfoque é outro: o meu interesse é em você, não no que você acredita ser. Estou com meu coração profundamente envolvido com você, e não com o que você acredita ser. O que você acredita ser é aquela raiz. Lembra da árvore, da mangueira dos frutos azedos? Pronto! Assim como aquela árvore tinha uma raiz da qual todos os frutos azedos apareciam ano após ano, a raiz, aí, está na ilusão de que você está presente, de que existe um “eu” aí, de que existe um “sentido de alguém” presente fazendo coisas. Não há autor das ações. Não há alguém decidindo a partir de uma escolha, que, como colocamos agora, nasce naturalmente da confusão. Não tem alguém aí! A “raiz” é o sentido de alguém presente aí. Portanto, quando você usa o pronome “eu”, se referindo a uma pessoa, à primeira pessoa do singular, falando de um “mim”, desse “si mesmo”, é uma ilusão. Essa é a raiz dessa mangueira, com toda sua vida, toda sua seiva vital, com todas as suas folhagens, com toda sua sombra, com tudo que ela produz, inclusive os frutos. A sua vida só pode ser uma balbúrdia, uma tremenda confusão, uma tremenda miséria.
Nesses dias eu falei isso, aqui mesmo nessa sala, e alguém me interrompeu e disse: “Não é assim! A minha vida não é miserável!” E eu disse: “Eu sei! É porque você tem um emprego, tem um salário, tem dinheiro, come bem, dorme bem? Ou porque você tem um marido, ou um namorado?” A vida humana é tão miserável que nem a miséria consegue ser vista. Um dos aspectos da miserabilidade da vida humana, nesse sentido do “eu”, do “mim”, do ego, é que jamais o miserável se vê assim; tal é o teor, tal é a qualidade, tal é a densidade da miséria. É um cego que não se vê cego. Tanto tempo na escuridão que não sabe o que é luz; então, escuridão é “luz”.
Quando você vem me ouvir, você pode se ouvir, e isso é ter Clareza, é descobrir o Amor presente no viver, e esse Amor, como uma árvore de frutos doces, só produz ações que nascem dessa Inteligência, dessa Liberdade, dessa Felicidade, dessa Sabedoria.
O que você vai fazer agora com isso? Você quer continuar sendo o João, a Maria, o Pedro? Você quer continuar “sendo”? O que significa esse “continuar sendo”? Significa continuar na ilusão de ser. Ser não conhece a ilusão de ser. Ser não é “continuar sendo”. Ser é agora, sempre agora, e é nesse momento que nasce a ação. Ser, nesse momento, traz a ação correta, a ação impessoal da Consciência, que é pura Inteligência. Uma ação que nasce desse Lugar não carrega medo. O arrependimento é um bisneto do medo; a culpa é uma filha direta do medo. Existe uma família enorme ligada ao medo.
O meu convite é para Ser, Ser agora! Não tem alguém! Não tem ele, não tem ela, não tem você, não tem sucesso! Que história é essa de sucesso? O sucesso cria muitos fracassados. O sucesso criou o fracasso como seu oposto; o bem criou o mal como seu oposto; a verdade criou a mentira como seu oposto. Não tem “verdade”, não tem sucesso, não tem o bem… A Vida Real está além dos opostos: bem e mal, certo e errado, verdade e mentira… Quando eu uso a expressão “Verdade”, compreendam: estou falando de algo além dos opostos. Quando eu uso a expressão “Amor”, compreendam: estou falando de algo além dos opostos. O amor que você conhece, que está ligado à sensação, à emoção, ao sentimentalismo, ao tesão, não é Amor! Isso é carência, é dependência, que também estão na família do medo, lembra?
Agora posso perguntar a você: o que é a ação? Quando foi que você esteve presente na ação? Pois eu posso afirmar: nunca! Quando a ação está, você não está! A ação é a expressão da Consciência, ela não é pessoal. Então, ela pode usar essas mãos aí, ligadas a esses braços, nesse corpo, ou pode usar as mãos ligadas a outro corpo, mas nem esse corpo aí é seu, nem aquele lá. Essa é a ação! Na ação você não existe, você não é real, você não aparece, você não está presente.
É possível essa ação? Eu pergunto, mas posso responder: só é possível essa ação. Como, até hoje, você nunca esteve presente, você nunca estará presente nessa ação. É possível essa ação? Só essa ação é possível, e ela é possível quando você não está. Aí, surge outra pergunta: “É possível eu não estar?” E eu dou a resposta: só é possível você não estar, porque você é uma crença, é uma fraude, é uma mentira. Desculpe-me se você está tentando ajudar outros, de uma forma ou de outra. Na verdade, você está criando mais confusão, mais confusão no mundo!
Não importa se somamos zero a zero, ou dividimos zero por zero, ou diminuímos zero de zero. Compreende o que eu disse? O resultado será sempre o mesmo: um grande zero, uma grande nulidade, uma grande futilidade, uma grande inutilidade. O que você faz, mesmo tentando ajudar, é escolha nascida da confusão, do sentido de um “eu” presente querendo ser alguém, querendo fazer alguma diferença, ajudar de alguma forma. Nesse “fazer” está a confusão. Eu lhe recomendo, primeiramente, realizar Isso que Você É, e, a partir dessa Inteligência, desse Amor, dessa Presença, dessa Consciência, dessa Graça, dessa Ação, observar o que acontece à sua volta. No budismo, eles chamam de Compaixão, que é quando esse Estado Natural, que produz ação natural, está presente.
Quer ajudar as pessoas? Abandone a ideia de ser “alguém”. Abandone essa crença, abandone essa fraude, abandone essa ilusão, vá além do sentido do “eu”, vá além da necessidade, ainda sutil e disfarçada, de ser ajudada, de ser ajudado. Se você ainda precisa ser ajudado, ou precisa de alguém para ajudá-lo, você só pode continuar nesse zero vezes zero, ou zero mais zero, ou zero dividido por zero.
Estamos falando da ação natural, a ação do Sábio, a ação do Jnani, a ação de Deus. Só há Ele! Quando Ele está, você não está. Essa é a ação correta, essa é a ação natural. Eu não chamo isso de uma vida de sucesso, eu chamaria isso de triunfo da Verdade. Um Buda vive como um rei, quer esteja numa caverna, com cabelo desgrenhado, sem banho, afastado de todos, ou esteja em um escritório, com ar-condicionado, acesso à internet de alta velocidade, ou numa mesa como presidente de uma Corporação. Um Buda vive como um imperador, quer ele seja um guardador de carros, um funcionário da Receita Federal, um empregado, um patrão, dono de um comércio, de um pequeno negócio ou um soldado. Um Buda vive como um imperador e não dá para medi-lo. Ele não vai passar pelo seu critério de sucesso, Ele não vai ser aprovado nessa sua prova. Primeiro, porque Ele está invisível nessa vida, em triunfo, nessa Realização. E não estou falando de alguém lá, estou falando de “alguém” aqui. “Alguém” aqui que não é mais alguém; “alguém” aqui que não se sente alguém; “alguém” aqui que não se vê como alguém; e esse “alguém” aqui é a Liberdade… A Liberdade aí assentada; a Liberdade aí falando, ouvindo, gesticulando… Algo tão natural, nessa ação natural.