Todo esse debate que acontece acerca da necessidade ou não do Guru, da necessidade ou não de um trabalho em direção a essa Realização, é algo bastante polêmico. Contudo, a questão da necessidade do Guru é uma questão que não deveria, jamais, entrar em debate, porque ela é completamente equivocada. Já a questão do trabalho, sim, poderia entrar em debate. É possível questionar a necessidade ou não do trabalho, mas não a necessidade do Guru. O equívoco é esse: não há o que questionar sobre a necessidade do Guru, porque não há o que questionar sobre a necessidade, ou não, de Deus.
Se questionarmos a necessidade ou não do trabalho, questão esta passível de questionamento, de debate, e descobrirmos a necessidade do trabalho, fica muito claro que o Guru é indispensável. Primeiro, precisa-se compreender o que é o Guru para vermos o equívoco deste questionamento sobre a necessidade Dele, ou não.
Então, o que é o Guru? Será o Guru uma forma humana? Será o Guru uma pessoa, alguém? Será o Guru uma autoridade?
O que é o Guru?
Falar em Guru interno é tentar, no modelo do pensamento, criar este questionamento, este debate, porque quando você fala em Guru interno – o que, na verdade, está somente afirmando uma teoria, um conceito, uma crença – você está abrindo espaço para a ilusão de que há um Guru do lado de fora, um Guru externo, um Guru com uma forma, a “pessoa” na forma do Guru.
Não há Guru interno, não há Guru externo! Não há o que debater sobre isso e não há nenhum Guru! Só há Deus e Deus é a grande necessidade, a única necessidade! Deus é a Natureza do Ser! Deus é a única necessidade Real! Deus é Ser! Não se pode dispensar o Ser. Não se pode dispensar o Guru. O Guru não é um ensino, não é uma prática, não é um professor. O Guru é a Consciência, é a Verdade, é Deus! O Guru é a sua Natureza Verdadeira e você não pode dispensar o que você É.
A única certeza que você tem é a certeza de que você está aí. Então, a única certeza que você tem é a certeza de que estar aqui e agora não pode ser dispensado. Isso é o Guru! Não se trata de interno ou externo, mas sim da Natureza do Ser, da Verdade. Portanto, não é uma questão de debate! Não é possível questionar a necessidade do Guru, a Verdade do Guru ou não, a Verdade do seu Ser ou não. O que se pode é investigar a natureza do trabalho.
Qual é a natureza do trabalho para esse Despertar? Qual o valor ou a importância disso? Se o trabalho não fosse necessário, você já teria realizado ISSO sozinho.
Não podemos discutir a necessidade, ou não, do trabalho para o Despertar… É o que nós podemos discutir e, ao mesmo tempo, nós não podemos discutir! Podemos nos embolar nessa discussão e chegar a uma conclusão sobre ela, que é a da não necessidade do trabalho para esse Despertar. Mas esta é uma conclusão de clara “não investigação”, porque em uma clara investigação se vê a real necessidade de um trabalho, pois sem ele você continua sendo o mesmo. O trabalho para o Despertar é uma real necessidade. Então, descobrindo a necessidade real do trabalho, fica muito claro que o Guru é indispensável.
Isso é como sofrer de uma doença e não ter o conhecimento necessário para tratar deste mal; como tentar ignorar a doença, fechando os olhos para o mal-estar e a dor que ela traz, e dizer: “não há doença”, porque o médico diz que não há doença. O médico pode dizer que não há doença, pode tratar sem nomear, sem falar da doença para você, sem acentuar essa crença da doença, mas ele é o médico e não você. Como você está sentindo a dor, os sintomas e o mal-estar, não pode falar que não há doença. Isto seria negar a si mesmo a possibilidade do tratamento, dos cuidados médicos, que é o que você faz, quando diz que o Guru não é necessário. Quando o Guru não é necessário, nenhum trabalho é necessário; quando o médico não é necessário, então o tratamento também não é necessário. No entanto, a doença persiste. Mesmo não querendo olhar para ela, ela está lá; mesmo não querendo sentir os sintomas, os sintomas estão lá; mesmo não querendo sentir a dor, a dor ainda está lá.
Eu posso, teoricamente, ou intelectualmente, dispensar o Guru… Eu posso ter uma resposta muito clara para a questão da necessidade ou não do Guru e essa resposta ser muito clara, intelectualmente. É como na não necessidade do médico, em que o corpo ainda continua doente, precisando de tratamento, mas “dispenso a necessidade do tratamento e do médico”. É isso que tem sido feito… Então, “se o médico não é necessário, o tratamento que ele tem para prescrever para mim também não é necessário”. Assim, “se o Guru não é necessário, então o trabalho que ele tem para me propor também não é necessário”. Mas, tudo continua na mesma… Tudo continua na mesma.
Os inúmeros argumentos que você pode usar para se defender do “tratamento” – que é o trabalho – e para se defender Daquele que vai “tratar” disso – que é o médico, que é o Guru – podem ser bastante claros, contundentes, relevantes, lógicos, razoáveis e, no entanto, não resolverão nada… O problema continuará lá! É só uma questão de tempo e, mais cedo ou mais tarde, a dor estará lá, os “sintomas” estarão lá, a “doença” se mostrará cada vez mais, e mais, evidente.
Portanto, entrar em debate sobre essas questões é completamente inútil. Quem faria tal coisa no seu próprio ego, se o médico está sempre pronto para tratar seu paciente? O médico tem a habilidade, a capacidade, a perícia e o conhecimento que se fazem necessários para cuidar do paciente, mas não está aí para convencer o paciente de que ele está doente. Ou está? Já viu algum médico se ocupando com isso? Tentando convencer o paciente de que ele está doente? O médico só aguarda você falar o que está sentindo e não está interessado em dar explicações sobre o que você sente – isto é assunto seu. O interesse dele é tratar você, libertar você dos sintomas e do mal. Então, ficar nesse debate interminável da necessidade ou não de um tratamento, com aquele ou aquela que não sente os sintomas de um mal presente, não adianta.
Você acredita que esse trabalho que acontece à minha volta é para aqueles que estão bem ou para aqueles que estão mal? É para os doentes ou para os sãos? Acredita que o médico vem para os doentes ou para os que estão saudáveis? Com o Guru é a mesma coisa… O Guru não serve para nada! É como o médico, que serve somente para o doente! O médico é algo maravilhoso para o doente, porque vai aliviá-lo da dor, mas para alguém saudável não serve para nada. Para alguém saudável, o médico é só um amigo; não é um especialista, não é uma ajuda, mas só um amigo! Se você não consegue ver o Guru, ele é só mais um amigo e, como amigo, ele não serve para nada.
Por isso, eu disse para você: não adianta vir me visitar em dias normais, porque eu não quero ser seu amigo; não sou amigo de ninguém. Eu sou um “médico” cuidando de pacientes. Se você sente dor, venha até mim, mas se não sente dor nenhuma, fique bem longe de mim! Eu não tenho nada com amigos. Eu tenho, sim, com investigadores da verdade, aqueles que estão “queimando” por Deus. Eu não tenho assuntos sobre a política internacional, do tipo: “Como vão os EUA?”; “O que acontecerá, agora, após o novo presidente?”. Eu não tenho assunto sobre futebol, como o campeonato paraibano, pernambucano, carioca ou brasileiro. Eu não tenho assunto sobre política para tratar com você. Eu não conheço e nem tenho interesse em conhecer sobre economia, música ou arte. Meu interesse com você é lhe comunicar Deus, é ajudá-lo a ir além da ilusão do sentindo de um “eu” separado, de uma identidade separada.
Agora, se você não sente isso, é como o paciente que não está sentindo nada… Você não é um paciente para o médico! Imagine que você se senta diante do médico e fala: “Estou aqui, Doutor”; e ele diz: “Ok! Do que se trata?”, ao que você responde: “Não sei”. Então, o médico interroga: “Como não sabe? Você está bem?”; você responde: “Estou bem!”. O doutor pergunta: “Como assim? O que é estar bem?”; você responde: “Estou bem, estou bem!”. Ele pergunta novamente: “Mas, então, o que você veio fazer aqui?”; você responde: “Nada. Estava de passagem e vim tomar um cafezinho com o Senhor!”. O médico vai dizer: “Olhe, você vai me dar licença, mas agora tem pacientes aí fora esperando para serem atendidos. Não tenho tempo para tomar café com você; deixe para outra hora. Se der vontade de tomar café, eu o aviso e tomamos um café juntos. Mas, agora, tenho uma fila de pessoas esperando por um atendimento”.
Se você não sente isso, não adianta ir ao Guru, aliás, você não vê o Guru. Você não precisa de Guru! Você já é um Guru para si mesmo, já é o seu próprio Mestre, está cuidando de si mesmo e não precisa de tratamento… Você está bem! Então, vem fazer o que aqui? Eu não sou seu amigo, não quero tomar café com você, mas quero, sim, saber o que você está sentindo. Agora, se você chega a mim e diz: “Eu não sinto nada! Eu sou Consciência, Felicidade, Amor, Paz…”, que maravilha! Que bom saber disso… Maravilha! É bom saber que você está aí. Agora, a fila anda e o próximo precisa ser atendido! Dê licença, porque tem outro que acha, sente ou acredita não ser isso – você acredita ser isso e o outro acredita que não é isso. Então, um tem uma crença e o outro tem outra crença, mas ambos estão acreditando numa crença. Que bom que você acredita que está bem. Você veio, se assentou aqui, mas descobriu que veio só para tomar um café. Eu não posso lhe oferecer um café, porque não tenho tempo para tomar café com você. Eu poderia lhe prescrever um tratamento, se você sentisse necessidade dele, mas como você não sente…
Está entendendo como é inútil isso? Já compreendeu isso, não é? Então, o que é que eu faço? Você se assenta, toma o lugar do outro e eu digo: “Não! Dê licença! Eu não tenho assuntos pessoais”. Vou desligando você, desocupando a “cadeira”…