Não há nada fora dessa Consciência. Essa divisão é totalmente arbitrária, criada pelos psicólogos. A própria mente cria uma divisão arbitrária acerca dela mesma. Ela é todo o conteúdo (que pode ser de 10 anos ou de 10 milhões de anos; mas é único). Quer a mente esteja aparente (na superfície) ou submersa em profundidade (oculta), estamos tratando do mesmo fenômeno. Não há divisão entre consciente e inconsciente. O que se chama “inconsciente” é a não ciência do que está aí submerso (inconsciente) e “consciente” é aquilo que está na superfície, do qual se tem ciência. Mas, quando a gente olha para a mente, a gente vê um conteúdo único, e ele não está oculto nessa Real Consciência. O que se oculta e o que se mostra é aquilo que a mente oculta e mostra para ela mesma. O que ela oculta de si mesma, ela chama de inconsciente, e o que ela mostra para si mesma, chama de consciente.
Então, não há tal coisa como mente inconsciente, subconsciente e esse “blá-blá-blá” todo. Essas divisões todas são criadas pela mente. Aquilo que ela oculta, chama de inconsciente ou subconsciente, e aquilo que ela mostra, chama de consciente. Mas não há nada na mente que seja oculto dessa Real Consciência. A Consciência é autorrefulgente. Assim como a lua não pode se ocultar do sol, a mente e o conteúdo dela não podem se ocultar da Consciência, porque a natureza da Consciência é aquilo onde tudo aparece e desaparece. O conteúdo da mente é somente imaginário, de tempo; não tem qualquer realidade substancial, material. Esse conteúdo da mente, quer seja de 10 anos ou de 10 milhões de anos atrás, é todo um conteúdo imaginário, conhecido dessa Consciência – que, por sinal, ignora isso, porque não é real.
Compreendendo isso, podemos fazer as perguntas adequadas. Qual seria a pergunta adequada? A pergunta que você tem é: “Como posso me livrar, aqui, na ‘máquina’, desse conteúdo oculto que se mostra como um trauma ou uma doença? ”
Trauma e doença, assim como o corpo, são somente aparições, também imaginárias, no tempo. Então, a primeira coisa a ser compreendida é isso. Não dê realidade ao que não tem Realidade! São aparições “linkadas” a outra aparição, e todas são ilusórias. Então, nós estamos limpando o terreno para que possamos fazer as perguntas corretas, formulá-las de uma forma correta.
Assim, entra agora a pergunta correta, que é: “Como posso me livrar desse conteúdo que se revela como uma doença, um trauma, ou seja lá o que for? Como posso me livrar disso?” Não há nada disso oculto nessa Consciência. Então, esse é o ponto número um: se não há nada oculto nessa Consciência, isso está presente agora!
Então, o que impede isso de vir à luz e desaparecer? A identificação forte com a ilusão dessa coisa chamada “realidade da mente”. Quando se confia que o sentido do “eu” é real, quando isso recebe validação, confiança, isso se mantém sem alteração. Somente isso impede a volatização de todo esse conteúdo à luz da Consciência. O diagnóstico é esse! O tratamento é Meditação! Meditação Real é esse presente momento, que é importante, porque pode abrir uma porta para esse instante atemporal, que é Consciência.
Então, qual é o tratamento? É esta observação desapegada, não intencionada, não envolvida com aquilo que acontece agora. Quando isso acontece, não há como esse experimentador (que é a própria mente egoica) se estruturar e se manter oculto. Então, todo esse conteúdo egoico se revela nesse presente momento. Não há nada que você carregue dessa vida ou de outras vidas, ou seja lá do que for.
Por que a gente está tratando da questão do tempo? Na verdade, é uma questão ilusória, porque não há tempo. Para a Consciência, tudo está presente agora. Então, a única coisa que se faz necessária é: aqui e agora, não se identificar com a experiência – isto eu chamo de Meditação! Então, todo esse conteúdo pode se revelar e ser volatizado, ser queimado e desaparecer, porque ele não tem nenhuma realidade, a não ser essa realidade que a própria ilusão da mente egoica sustenta, nessa ideia de que há um experimentador nisso.
Vocês estão compreendendo?
O diagnóstico foi dado e, agora, o tratamento está sendo dado. O tratamento é: aqui e agora não há experimentador; aqui e agora, o que quer que esteja aparecendo nessa “máquina”, não é para um experimentador. Quando isso é assumido, então, tem-se liberdade para que aquilo que está oculto venha e apareça. Eu perguntei agora se você consegue fazer isso sozinho… Você não faz isso sozinho! Sozinho, você só faz atrapalhar tudo! Sozinho, você só dorme e está nessa inconsciência há milênios.
Então, o que acontece em Satsang? Em Satsang, você se depara com uma “fogueira enorme”, com um calor intenso de Presença, de Consciência, de Atenção. Então, Isso respinga em você. É algo tão transbordante que vai para você. Você recebe Isso quando dá valor a Isso; quando está aqui em silêncio, com todo seu coração e disposição para vê-Lo. Quando essa disposição está presente aí, você tem a oportunidade de ver Isso revelando-se como seu próprio Ser, que não está separado da própria “fogueira”, que é o Guru, que é a Consciência do Guru, que é o Real. Então, isso que está aí vem à tona e é consumido. Na Índia, eles chamam de Vasanas essas tendências latentes da mente, que são essas impressões do tempo na “máquina” – a ilusão de uma identidade que viveu tal coisa há 10 dias, há 10 anos ou há 10 milhões de anos.
Então, somente uma chave existe para a Liberação e se chama Meditação! Mas Meditação não requer técnica e não é uma prática. Uma prática ou técnica você sempre atrela a corpo, mente, tempo e espaço. Meditação é Consciência atemporal – essa Consciência atemporal presente aí na “máquina” sendo acessada. O termo melhor seria “assumindo o lugar Dela”, porque Ela também não pode ser acessada; Ela pode assumir o lugar Dela. É como o sol que está brilhando lá fora enquanto as janelas estão fechadas. Então, você tira as persianas, abre as janelas, e o sol que está lá fora entra. Você não traz o sol, apenas libera os impedimentos.
Agora entra a questão da Sadhana, que é esse trabalho de entrega sob a Upadesa, o ensino do Guru. Assim, ao acontecer esse trabalho de entrega, que é a Sadhana, esses obstáculos desaparecem, mas o que já está presente já está presente. Como os obstáculos desapareceram, o que está presente se revela como Iluminação, Despertar, Realização de Deus. Esta é a cura para a causa de todas as doenças.
Ramana Maharshi dizia que o ego é a causa de todas as doenças, porque doença não é natural. Quando sente uma dor de dente, você vai ao dentista, porque o natural é não sentir o dente na boca, ou seja, o dente trabalha sem você ter a mínima lembrança de que existem dentes na sua boca. Quando sua boca está saudável, você não tem consciência dos dentes; quando seus rins estão funcionando bem, você não tem consciência deles. Não é assim? Quando seu estômago está bem, você “não tem” estômago. Portanto, o natural é a saúde, que torna aquele órgão invisível, mas quando ele sinaliza um mau funcionamento, surge a ideia da presença dele, que “diz”: “Estou aqui”. Assim, a ideia do corpo aparece e, também, a ideia do tratamento para esse corpo. Então, existem as solicitações da mente para tratar dessa entidade presente, chamada órgão no corpo, que tem que ficar bom, porque senão pode morrer. Aí toda uma história surge! Mas, quando há saúde, não há ideia de corpo, como não há ideia de dente na boca, como não há ideia de rim. Por quê? Porque o corpo é uma ilusão. Ele só aparece quando reclama, “dizendo”: “Estou aqui!”, quando, então, acontece essa coisa não natural, que é chamar atenção para ele. Então, reparem que, nesse sentido, a doença não é algo natural.
Não estamos dizendo que não seja natural, como a presença do corpo é natural, assim como a morte. Estou dizendo outra coisa, apontando para outra coisa. Nessa Consciência presente não tem espaço para a ilusão da separatividade ou para essa doença, que é uma ilusão – a ilusão “eu sou o corpo”, “eu estou aqui”. Quando surge a ideia “eu sou o corpo”, “eu estou aqui”, e há uma doença, então “eu” vou buscar a sua causa. Se “eu” vou buscar a causa dessa doença, é claro que eu vou encontrá-la, porque ela está atrelada à ideia “eu estou aqui”, “eu sou o corpo”. Então, é uma ilusão atrelada a uma outra ilusão – a ilusão “estou no tempo e no espaço”, “sou real como uma entidade presente”, enquanto que, na realidade, só há Consciência, e a presença Dela é o fim de todas as doenças. A doença primária é o sentido de separatividade. As secundárias, vocês sabem quais são: tédio, solidão, medo, ansiedade, “blá, blá, blá…”.
Deu para acompanhar isso?
Então, diagnosticamos e acabamos de prescrever a medicação para essa doença. A medicação é o fim da ilusão de que tem “alguém” doente; o fim do sentido de separatividade. Isso significa uma tomada de Consciência, o que eu costumo chamar nas minhas falas de “assumir o que Você É”. Quando você assume o que Você É, o sofrimento termina; quando não assume, você sofre, porque quer consertar o mundo, o corpo, isto ou aquilo, e isso tudo não tem conserto.
Portanto, no Estado Natural, o corpo, como qualquer outra aparição, está destinado a desaparecer no tempo e no espaço, porque o tempo e o espaço aparecem juntos com ele, fazem parte de sua ilusão. Neste sentido, toda doença e a morte são bem-vindas a um corpo ilusório, destinado a desaparecer no tempo e no espaço. Neste sentido, a doença e a morte são tão reais quanto o corpo é real – partilham da mesma “realidade”, que é a realidade da ilusão.