O pensamento criou a ilusão e a sustenta. É a natureza do pensamento trabalhar com formas, e elas são, por natureza, separadas. Todas as formas são únicas. Todas as formas, sem exceção, são criadas pelo pensamento. O pensamento é a base da separação porque é a base das formas. Vocês não precisam brigar com o pensamento, precisam reconhecer o que o pensamento é: o criador das formas. Tudo o que você precisa é deixar o pensamento ser o que ele é. Só assim você poderá permanecer sendo o que Você É.
Você não permanece sendo o que Você É, porque você está brigando com o pensamento, mexendo com ele, se metendo, se embolando, se confundindo com ele. Qualquer pensamento que passa aí, você o assume como sendo seu, como sendo você. Você se confunde com ele. Tudo que aparece, só o faz porque tem forma, a qual é criada pelo pensamento. O mundo é mental. Aquilo em que o mundo aparece não é pensamento, mas é a base da aparição do pensamento, que, por sua vez, é a base das formas.
A arte da Liberação é a arte da Felicidade. Essa arte é a habilidade de permanecer na Fonte, em sua Natureza Verdadeira. Isso é Meditação; isso é Felicidade; isso é Liberação; isso é a Realização de Deus! Só aí o sentido de separatividade termina. O ego é só um conceito dentro desse sentido de separatividade, assim como o sofrimento e o desejo.
“Eu sou o corpo”. Você afirma isso quando se confunde com o experimentador nesta experiência agora, aqui, falando, comendo, andando ou fazendo alguma coisa. É a ideia de ser o autor, o realizador, alguém presente nesta experiência. Quando você faz isso, o sentido do ego aparece, que é um conceito dentro desse sentido de separatividade. Quando esse conceito surge, também surge o conceito do sofrimento para esse experimentador, para esse “mim”, para esse “eu”, para esse ego.
Isso é um equívoco. É só uma confusão. Algo que está aí por falta de uma investigação profunda, honesta, dedicada, séria. Você não está disposto a fazer isso, porque isso termina com “você”, então você foge para a filosofia, para a arte, para a ciência, para a religião, para a música… Você se mantém como alguém. Você só melhora, mas não desaparece. Torna-se uma pessoa melhor e se destaca diante de outras. Torna-se mais sábia, mais espiritual, mais santa; especial. Eles são pecadores e você é um ser divino. Então você está dentro da mesma armadilha criada pelo pensamento. Você é alguém virtuoso, cheio de virtudes… Tudo no ego, é claro. Só o ego pode ser virtuoso, mas o sentido do “eu”, do “mim”, do experimentador, está lá.
As pessoas vêm a mim, vêm a Satsang, mas elas não estão dispostas a prestar atenção para onde eu estou apontando. Estou apontando para o Silêncio, e, no Silêncio, não tem alguém. Eu não quero discutir com elas, mas elas chegam e querem entender isso. Não há nada para ser entendido, Não tem alguém para entender! É só parar de pensar, de tirar conclusões, de buscar mais e mais conhecimento, mais e mais informações. Isso significa um esvaziamento completo de todo este conteúdo. Fica tudo tão simples, porque não tem informações, não tem conhecimento, não tem teorias, não tem crenças. Não existe nada disso! Não tem você! Isso é Satsang, o encontro com o que está tornando tudo possível.
Aquilo que É – onde o que está presente se apresenta para desaparecer no momento seguinte – é Meditação, Presença, Consciência, Ser, Deus. Não tem nada a ver com as formas. Não é a forma. Se a forma pudesse afirmar isso, seria uma ilusão, porque isso não é a forma, isso é onde a forma aparece. Então, quando eu chego aqui e afirmo “Eu sou Deus”, estou falando algo que é o que É. Não é a forma.
Quando Deus aparece a Moisés na sarça queimando, em Horebe, Ele diz: “Vá ao faraó e diga: ‘Eu Sou! Eu Sou me enviou a vós’”. A sarça tem a forma de fogo, mas é uma sarça pegando fogo. É curioso, porque ela pega fogo, mas não se consome. Deus diz: “Vá e diga ao faraó: ‘Eu Sou!’” Deus está dizendo para Moisés: “Eu Sou. Não tem Moisés”. Não é: “Deus me enviou para você faraó”. Deus não disse isso para ele. Disse: “Eu Sou me enviou a vós”. Deus está dizendo: “Não tem Moisés, só tem Eu”.
Não tem a forma; não tem o nome. Eu sou! Você está aqui e Eu Sou me enviou a vós para tirar você do Egito, da terra da escravidão. “Terra da escravidão” é essa ilusão, o sentido da separatividade. Esse é o seu “Egito”. O seu “Egito” é o sentido da separatividade. Eu Sou me enviou a vós para tirar você daí, com o braço estendido e mão forte. Esse é o sentido do Guru, esse é o sentido do Eu Sou. Não tem nada a ver com Marcos Gualberto, não tem nada a ver com Moisés. Não tem Moisés, não tem Marcos Gualberto.
Quando o meu Guru apareceu, ele não apareceu como um indiano, ele apareceu como Deus. Eu nunca vi Bhagavan como um indiano. Eu nunca vi meu Guru como uma pessoa. É um equívoco você chegar aqui e achar que tem um professor. Um professor é Moisés, um pastor de ovelhas, uma pessoa. O Guru não é uma pessoa. O Guru é o Eu Sou! A coisa é assim. Você não pode lidar com isso nesse formato: o professor e seus alunos. Não tem professor, não tem alunos, só tem o Eu Sou.
Então, quando você volta para a Fonte, você volta para esse Eu Sou, mas esse Eu Sou não é o “eu sou” que o pensamento imagina. É o Eu Sou que está além do pensamento. Se está além do pensamento, está além das formas, além do corpo. Aí está a Bem-Aventurança, aí está o Nirvana, o Reino dos Céus, a Liberação, o fim do “eu”, o fim do mundo.
É tanta coisa acontecendo nessa sua história… Chegará o dia em que você não vai mais se importar. Nesse dia, será algo semelhante a um sonho que você sabe que é um sonho. Então, você não se importa. Na mente, identificado com ela, você está dando muita importância a isso.
Perguntador: Como viver no mundo sem ser do mundo?
Mestre Gualberto: Viver no mundo sem ser do mundo é assumir isso: a verdade de que não importa o que está acontecendo. Só está acontecendo porque Deus assim quer que aconteça; só está acontecendo porque o autor deste filme, o diretor, os atores, as cenas, o operador de áudio, o cinegrafista, determinam que seja assim. Viver nesse mundo só é difícil para você porque você faz questão disso.
Sua vida real não está neste mundo. Sua vida irreal é muito difícil, porque nessa sua vida irreal você faz questão de ser alguém – alguém que sabe o que anda acontecendo, que quer mudar as coisas, fazer diferente. Você só precisa de uma coisa para viver no mundo sem ser do mundo: desidentificar-se do corpo e da mente, da história de alguém. Você faz isso no momento em que, aí dentro, você aceita que tudo é a vontade de Deus. Então, o mundo passa a ser de Deus e essa sua ilusória vida desaparece. Aí, a vida real está presente.
A dificuldade de viver no mundo sem ser do mundo está nessa sua vida ilusória, que é a vida em que você está escolhendo, controlando, decidindo, resolvendo, tentando fazer, aceitando algumas coisas e rechaçando outras. Buscando o prazer e tentando se afastar da dor, ou daquilo que parece que não vai lhe dar prazer. Você faz isso para encontrar algo que lhe dê prazer.
Portanto, só há uma forma de viver no mundo sem ser do mundo: deixando o mundo em paz; não se metendo com os assuntos de Deus; deixando Ele fazer tudo o que Ele quer, sem achar que pode fazer melhor do que Ele, sem tentar fazer melhor do que Ele. Nesse momento, há um “relaxar” em Sua Vontade. Aí, o seu ego, o seu “mim”, o seu “eu”, esse sentido de alguém, deixa de ser importante. Quando você assume isso, ele desaparece. Quando ele desaparece, o mundo desaparece. Você deixou o mundo em paz. Essa é a Liberdade, é a Felicidade, é a Realização de Deus.
Assim, o problema não é viver no mundo, mas sim a ilusão de que tem “alguém” aí. O mundo não é o problema. O mundo está em paz quando está livre de você. Ele só é um problema para você quando você não o deixa em paz. E é um problema só seu! Você nasceu para realizar seu Estado Natural. Isso não faz de você um ser especial, um ser espiritual, um ser sobre-humano. Seu Estado Natural apenas revela a única “Coisa” que é real, em meio a todos estes fenômenos que vêm e vão. Seu Estado Natural revela que só há Deus. Então, o mundo é uma aparição inofensiva em Deus.
Quando vocês fazem perguntas como essa, vocês querem, na verdade, se livrar do mundo. Quando vocês perguntam coisas desse tipo, não é porque estão insatisfeitos com o mundo. Na verdade, vocês querem se livrar da dor que o seu ego experimenta no mundo. Mas o seu ego é a dor nessa experiência do mundo. Se você pudesse viver no ego sem o sofrimento do mundo… É o que você gostaria de ter.
A questão é: onde estaria o mundo se você não estivesse aí? Ele seria esse problema? Ele seria esse sofrimento? Estão dizendo aqui que não. E por que não? Tudo que Deus é, é perfeito. Em outras palavras: tudo que Ele faz é bom! Não é bom porque você acha bom. É bom porque Ele faz! Tudo que Ele faz é bom, porque Ele só faz o que decide fazer. Então, é perfeito. Portanto, o problema não é o mundo como ele é. O problema é a ilusão que a mente aí produz para esse alguém que você acredita ser, tentando uma relação impossível com o mundo, uma relação desse sentido de separação, que é conflito, sofrimento, miséria.
Não tem você aqui, só tem Ele, e, Nele, não há nenhum mundo separado sendo visto. Essa separação é a ilusão desse “você” aqui presente. Você não escolheu nascer, e agora cria a ilusão de que você pode escolher viver dessa ou daquela forma. Aqui está o conflito. Se você não escolheu nascer, você não tem escolha de como viver e se continua vivendo ou não. O conflito surge só porque a ideia de “alguém” surge aí; a ideia de uma pessoa, um indivíduo, alguém presente, essa coisa chamada vida pessoal, vida humana, vida individual.
É como a água, que uma hora é vapor, outra hora é líquida, outra hora é gelo. Como se ela tivesse escolha… Nessa escolha, ela conflita com o que é, porque se ela é vapor e escolhe ser líquida, ela está em conflito; se ela está em estado líquido e escolhe ser vapor, ela está em conflito; se ela está como gelo e escolhe ser vapor, ela está em conflito. Essa ideia de ser ou ter algo diferente é o conflito.