Infância e juventude

Quando eu era criança, eu queria isso, exatamente isso que eu sou hoje: eu queria viver Deus, eu queria saber o que é Deus! Quando eu era criança, eu sentia que Ele não estava no céu, Ele tinha que estar aqui, acessível ao meu coração. E é isso que estou compartilhando com vocês!

Da infância à
"explosão da bomba"

Da infância à "explosão da bomba"

Nascido em 30 de Setembro de 1962, na Vila Cruzeiro (região pertencente ao conjunto de favelas do complexo do Alemão), no bairro da Penha, Rio de Janeiro, em uma família de quatro irmãos, filho de um vendedor de doces caseiros e de uma dona de casa, Marcos da Silva Gualberto não foi uma criança típica.
Ao nascer, a criança não chorou nem abriu seus olhos, como se estivesse em um estado de profunda meditação. Abriu seus olhos ao mundo, pela primeira vez, no quarto dia após o seu nascimento, o que foi motivo de preocupação para a mãe, que acreditava que a criança estivesse com alguma enfermidade.
Sua infância foi tranquila, alternando as atividades típicas de uma criança – como brincar com os irmãos no Morro do Alemão – com momentos de silêncio e isolamento – como sentar-se de pernas cruzadas, em posição de lótus, embaixo da máquina de costura antiga de sua mãe, e ali ficar por um longo período no silêncio de Paz. Aquela criança parecia já trazer consigo o Silêncio.
Aos cinco anos de idade, teve sua primeira experiência de imersão no Ser, em Deus. Após ser repreendido pelo pai por brincar durante um culto pentecostal, seguiu a sua recomendação: sentou-se com as mãos sobre os joelhos, fechou os olhos e voltou a sua mente para Deus. A partir deste momento, percebeu que os sons das invocações de Glória a Deus no culto foram ficando distantes, e ele foi sendo tomado por um silêncio, um espaço vazio, mas pleno de bem-aventurança e felicidade. A criança ali permaneceu por um longo período, em profunda imersão no Divino.
Diferentemente de outras crianças, Marcos Gualberto não tinha desejos: não desejava brinquedos, presentes ou qualquer outra coisa comum às crianças de sua idade. Acolhia o que viesse, sem se sentir injustiçado ou insatisfeito, sem sequer desejar que algo fosse diferente. Ainda na infância, quando algo o incomodava ou o deixava triste, ele focava a sua atenção em si mesmo, em sua reação e insatisfação, e não na pessoa ou na situação que parecia ter lhe causado tal incômodo, até que aquele sentimento fosse “queimado” e desaparecesse completamente.
Outro detalhe digno de nota era a clareza com que o pequeno Marcos Gualberto compreendia que havia algo errado com os pensamentos. Vendo seus pais discutirem, por exemplo, Marcos podia ver que o que eles faziam era apenas trocar pensamentos.
Assim, para se ver livre dos pensamentos que passavam em sua própria cabeça, Marcos, já com uns 10 anos de idade, costumava passar horas sozinho no parque Ari Barroso, na zona norte do Rio de Janeiro, ou no jardim da igreja que os seus pais frequentavam, onde, conforme relata, os pensamentos desapareciam.
Em certa ocasião, ainda criança, Marcos perguntou ao seu pai se era normal haver tantos pensamentos passando pela cabeça. Apesar de obter um “sim” como resposta, Marcos não se convenceu.
À medida que foi crescendo, intensificou este hábito de observar suas atitudes e sentimentos, como se fosse um observador externo de um personagem dentro de um filme, algo que futuramente veio saber tratar-se da autoinvestigação ensinada por Sri Ramana Maharshi.
Começou, então, sua intensa procura por Deus, oriunda de uma tremenda insatisfação interna e um profundo anseio para encontrá-Lo. Assim, Marcos Gualberto passou a dedicar toda sua vida a esta busca pelo encontro com Deus.
Sob influência de sua família evangélica e bastante religiosa, aprendeu a buscar a Deus através do estudo da Bíblia, da oração e do jejum e, com obediência, atendeu às práticas que lhe disseram que trariam o fim da insatisfação e o levariam ao encontro com Deus.
Estudou Teologia, tornou-se diácono e depois pastor, buscando a Fonte da Vida através dos ensinamentos bíblicos. Buscou arduamente encontrar, entre os religiosos de seu convívio, alguém que lhe pudesse mostrar a Verdade, que vivesse em santidade, plenamente unido e realizado em Deus. Entretanto, não encontrou sequer alguém que tivesse a mesma ânsia por Deus que ele possuía.
Em meio a esta busca, seguiu sua vida normalmente. Aos 20 anos, casou-se e teve uma única filha. Entretanto, Marcos Gualberto era uma pessoa incomum: não possuía apegos materiais, seguia atento às suas reações diante de diversas situações da vida, agindo de modo diferente das pessoas comuns. Além disso, experimentava momentos de Silêncio profundo, entrando em estado meditativo com facilidade.
Então, aos vinte e quatro anos, em Dezembro de 1985, depois de muitas orações e jejuns, um livro chamado “Maha Yoga Or The Upanishadic Lore In The Light Of The Teachings of Bhagavan Sri Ramana”, do autor de pseudônimo Who (traduzido para o português pelo Professor Hermógenes, com o título reduzido, unicamente, para “Maha Yoga”), caiu em suas mãos.
Neste livro, havia a foto do sábio indiano Sri Bhagavan Ramana Maharshi. Ao olhar para os olhos de Ramana, teve a certeza de que encontrara aquilo que sempre buscou: aquele que havia realizado Deus, aquele que vivia nesta união santa com o Divino. Naquele instante, sua busca terminou.
E nos anos seguintes, Marcos Gualberto sentiu-se conduzido, por Sri Ramana, a voltar-se para si mesmo cada vez mais, e a cada momento. Então, entregou-se totalmente a esta guiança. Foram 21 anos de trabalho voltado para a meditação, autoinvestigação e entrega à Graça do Bhagavan, até a sua conclusão com a experienciação direta e verdadeira Daquilo que é o Cristo. Esta experiência foi tão misteriosa quanto o seu encontro com a Graça de Ramana, em Dezembro de 1985, marcando o fim deste trabalho e extinguindo completamente o sentido de separatividade. Este episódio foi chamado pelo Mestre Gualberto de “explosão da bomba”.